O imprevisível 2018 PD49 | Page 94

Ajuste fiscal e disputa orçamentária Marcos Cintra A literatura econômica comprova que ajus­tes fiscais dura- douros e de boa qualidade são os que cortam gastos sem aumentar impostos. Se bem executada, esta política pos­sui nítidas vantagens: corta gorduras e ineficiências, combate os rent seekers (agentes que tentam obter renda manipulando o am­biente político), reduz a cor­r upção, diminui a demanda do setor público por pou­pança privada e preserva a capacidade de investimento das empresas. Já os ajustes que aumentam tributos não apresen- tam as mesmas qua­lidades. Nesse sentido, o governo acertou ao colocar a ênfase inicial de seu esforço fiscal nos cortes de gastos e na aprovação da Lei do Teto. Contudo, a gestão de gastos tem se mostrado incapaz de cortar despesas para atingir as metas de déficit primário. Além disso, vem impondo restrições orçamentárias de forma indiscri- minada, sem critérios claros e racionais. Em parte, a estratégia do governo en­f renta dificuldades por repetir o erro cometido em 2015 pelo então ministro Joaquim Levy, que, em vez de fazer o ajuste fiscal de forma concentrada em medidas estruturais fortes e definitivas, optou por uma estratégia fragmentada com cortes de gastos pulverizados e sem avaliação objetiva de impactos e resultados de suas ações. São notórias as dificuldades de cor­t ar gastos públicos em sociedades co­mo a brasileira, onde imperam o clien­telismo e o corporativismo. A frag­mentação das restrições orçamentá­r ias em inúmeras pequenas ações am­plia os focos de resistência e esti- mula a formação de frentes amplas contrá­ r ias aos cortes de gastos. O resultado é previsível: o governo foi forçado a am­pliar a meta de déficit primário e, ao mesmo tempo, aumentar a carga tri­butária, uma tóxica combinação de políticas econômicas se se pretende recuperar a economia. A questão que surge, portanto, é como promover ajustes fiscais sem aumentos de tributos e, ao mesmo tempo, cortar despesas minimizando seus impactos negativos na retomada da economia. A necessária determinação de cortar gastos vem sendo executada pelo governo de forma canhestra ao impor cortes indis- 92