à estrutura do Estado e conecta os diversos níveis e camadas, em
inúmeros centros de poder que vão do local ao nacional.
O desencanto também pode ser considerado como resultante
de duas crises que ocorrem simultaneamente no Brasil e, simul-
tânea ou isoladamente, em muitos outros países: a crise das
democracias representativas e participativas; e a crise do apare-
lho do Estado. A soma de todos estes elementos desagua na
Agenda Negativa que, tudo indica, poderá ser um forte compo-
nente a ser considerado nas eleições de 2018.
Talvez a possibilidade de entregar esperança de mudanças e
produzir confiabilidade nunca tenham sido tão importantes
quanto no processo que se aproxima.
A crise das democracias representativas e participativas
Instituições formais ou informais dependem de confiabili-
dade. No caso da democracia representativa, a confiança dos elei-
tores está em queda. Mesmo que não seja um fenômeno apenas
nosso, local ou nacional, a queda da confiança pode afetar o
comportamento do eleitor, tanto pela via da abstenção quanto
pela via das soluções radicais.
Menos debatida ainda temos a considerar que a democracia
participativa também está em crise. Já houve um momento em
que se considerou que o aprofundamento do processo de demo-
cratização na sociedade brasileira se daria pela via da intercone-
xão entre ambas as formas de democracia. Não foi o que o mundo
real nos trouxe. Mesmo que, a partir da Carta Magna de 1988,
tenhamos vivido um surto formal de participação da sociedade
civil na gestão do Estado e na ação das diversas entidades do
movimento social, esse surto acabou por se consolidar mais no
aspecto da formalidade legal com a criação de dezenas de conse-
lhos paritários nos diversos níveis federativos. Conselhos Paritá-
rios e Entidades Sociais são fortes dependentes da cidadania e o
que presenciamos, mesmo com momentos como o de 2013, é um
forte embotamento da cidadania. Conselhos Paritários acabam
manipulados pelo Poder vigente e entidades sociais acabam por
ser estatais dependentes e, portanto, também manipuladas pelo
Poder vigente. Restaria considerar o papel da rede das redes, mas
isso trataremos em outro momento.
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Demétrio Carneiro