coerência entre os diversos temas. A questão dos partidos passa a
ser quando seus filiados se comportam como nas redes, e deter-
minadas escolhas colidem com a agenda partidária. Pode ocor-
rer um agrupamento dedicado à questão da pessoa com deficiên-
cia alinhado com a agenda de apoio a esse tipo de minoria e pode
haver, naquele agrupamento, pessoas a favor da redução da
maioridade penal, postura desalinhada com a agenda partidá-
ria. Em certo sentido, a ausência de debates é facilitadora da
acomodação dessas contradições que acabam eclodindo apenas
em situações muito específicas.
Se realmente o partido é o meio intermediário entre a cidada-
nia e o Estado, isto é, leva para a gestão pública as demandas da
sociedade em forma de novas leis e o não cumprimento das atuais,
a dúvida é como acomodar esta contradição de forma democrá-
tica. Enfim, é possível acomodá-la, a contradição, talvez reprodu-
zindo o formato das redes numa agenda multifacetada e em
permanente modificação, nesse sentido numa não agenda?
As crises simultâneas
As eleições de 2018 apresentam um quadro bem peculiar. No
primeiro plano, uma forte crise institucional que atinge as três
estruturas de poder republicano: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Há um forte esgarçamento da tessitura institucional. As instituições
são criadas pela sociedade como elementos de geração de estabili-
dade, focadas na cooperação, como forma de superar os conflitos.
Elas fornecem regras e previsibilidade. Se considerarmos essa afir-
mativa como correta, fica mais fácil entender o atual ambiente.
Contudo, este esgarçamento não tem origem apenas no desen-
canto, consequência da exposição à luz do dia da estrutura patri-
monialista que atinge não só os três poderes republicanos, mas
também os três níveis federativos. Para onde se olhe com mais
detalhes a ação do Estado, a ação patrimonialista fica eviden-
ciada. Não necessariamente por corrupção passiva ou ativa, mas
por diversos outros comportamentos (empregos cruzados para
parentes e associados, alocação de cabos eleitorais, direciona-
mento favorecido na aplicação de recursos, sobre preços nas aqui-
sições, uso do poder corporativo na geração de benefícios e rendi-
mentos indevidos), comportamentos que acabam por ser, de fato,
apropriação privada de recursos que deveriam ser utilizados em
favor de todas e de todos. A Rede Neopatrimonialista é transversal
Uma discussão sobre um futuro nem tão distante
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