O imprevisível 2018 PD49 | Page 83

O próximo está sempre muito distante, e a solidariedade é apenas adereço linguístico. O controle da sociedade sobre o Estado se expressa pela exis- tência e efetividade de insti­t uições e mecanismos característicos da vida republicana que estabeleçam limites às autori­ dades e coloquem à disposição das pessoas instrumentos adequados ao controle do poder político e administrativo. É bem evidente que se trata de um produto raro entre nós. É fácil constatar que, por mais impopular e ilegítimo que seja, um governo é capaz de impor a sua vontade, aprovando medidas contrárias ao in­ teresse da grande maioria da população, afas­t ada e alienada das decisões. O controle do Estado sobre a sociedade é es­sencial para arbi- trar os conflitos, e constitui instrumento para promover a maior equaliza­ção possível entre os cidadãos. Para tanto, pre­cisa dispor de uma legislação perene e com­preensível, que valha indistinta- mente e cuja aplicação esteja sob a responsabilidade de ma­g istra- dos justos e equilibrados. É despiciendo dizer que, entre nós, leis não “pegam”, depen­dem de quem e a quem se aplicam, e há sem­pre um jeitinho para tudo. Por fim, o controle do Estado sobre o Estado só é possível quando cada Poder e cada órgão tem uma função definida, atua em harmonia com os demais (respeitando os respectivos limi­tes) e está sujeito a apropriado controle social, não estritamente corpo- rativo ou meramente interno. Não é preciso muito esforço para perceber a desordem administrativa e institucional reinante no país, a ação descoordenada controlada dos Poderes e órgãos, e a atuação voluntarista, saliente e até arbitrária de vários entes e agentes públicos, exercendo suas atividades como se fossem verdadeiras ilhas sem freios e contrapesos, indispensáveis em uma democracia. Como mencionei no início, o passado e o futuro parecem estar fundidos no Brasil. Governabilidade e controles 81