O imprevisível 2018 PD49 | Page 77

apelido de Boca-do-Inferno. E, a seguir Castro Alves valeu-se de sua poesia condoreira para condenar o escravagismo e os desman- dos dos escravocratas. E óbvio que citamos os que mais se destacaram, mas, segura- mente, não foram os únicos. Assim, e para não mais nos alongar, saltemos aos dias de agora. No ainda popular governo Lula, o escândalo do Mensalão agrediu a face democrática e republicana da nação. Mas o castigo, ainda que incompleto, veio a galope, instante em que ganha realce a figura do ministro Joaquim Barbosa, que, nos estritos termos da lei, puniu seus maiores responsáveis, todos de dentro das entranhas do poder. E o quadro se agrava com a ação denodada, entre outros, do juiz Sérgio Moro, com decisões que já puniram altos dignitários da República e alguns dos maiores empresários do país. Isto vem demonstrar que a vontade, expressada ou não, pelo povo, acaba por prevalecer. Devemos abandonar ao lixo da Histó- ria expressões como aquela de um líder político da época, para quem o povo assistiu passivamente à proclamação da República. Certo, não foi um instante apoteótico, mas efetivo e é isso o que interessa. Mas não foi passivamente que se criaram partidos republicanos em diversas províncias do Império, cabendo, ainda, destacar a vibrante convenção republicana em Itu, São Paulo. São fatos que, na prática, desmentem aquela passividade. Este tipo de análise, digamos, epidérmica, não é incomum. Há exemplos os mais diversos. Temos visto, nestes dias, as comemora- ções dos 500 anos da reforma que Lutero impôs à Igreja. Mas ao meio de tantas homenagens ninguém se lembrou de destacar que, 200 anos antes, ainda que de forma mais humilde, Francisco de Assis já havia tentado algo semelhante. E que a luta de Lutero teve prosseguimento, tanto que, 200 anos depois dele, o nosso Castro Alves já se valia, no mesmo sentido destes brilhantes versos: Quebre-se o cetro do Papa Faça-se dele uma cruz Que a púrpura sirva ao povo Pra cobrir os ombros nus. Em suma, o povo, protagonista maior da História, não deve ser alijado de qualquer importante decisão no bojo dessa mesma História, porque, afinal, lenta ou aceleradamente, ele retoma o Sobre a corrupção 75