apelido de Boca-do-Inferno. E, a seguir Castro Alves valeu-se de
sua poesia condoreira para condenar o escravagismo e os desman-
dos dos escravocratas.
E óbvio que citamos os que mais se destacaram, mas, segura-
mente, não foram os únicos. Assim, e para não mais nos alongar,
saltemos aos dias de agora.
No ainda popular governo Lula, o escândalo do Mensalão
agrediu a face democrática e republicana da nação. Mas o castigo,
ainda que incompleto, veio a galope, instante em que ganha realce
a figura do ministro Joaquim Barbosa, que, nos estritos termos
da lei, puniu seus maiores responsáveis, todos de dentro das
entranhas do poder.
E o quadro se agrava com a ação denodada, entre outros, do
juiz Sérgio Moro, com decisões que já puniram altos dignitários
da República e alguns dos maiores empresários do país.
Isto vem demonstrar que a vontade, expressada ou não, pelo
povo, acaba por prevalecer. Devemos abandonar ao lixo da Histó-
ria expressões como aquela de um líder político da época, para
quem o povo assistiu passivamente à proclamação da República.
Certo, não foi um instante apoteótico, mas efetivo e é isso o que
interessa. Mas não foi passivamente que se criaram partidos
republicanos em diversas províncias do Império, cabendo, ainda,
destacar a vibrante convenção republicana em Itu, São Paulo. São
fatos que, na prática, desmentem aquela passividade.
Este tipo de análise, digamos, epidérmica, não é incomum. Há
exemplos os mais diversos. Temos visto, nestes dias, as comemora-
ções dos 500 anos da reforma que Lutero impôs à Igreja. Mas ao
meio de tantas homenagens ninguém se lembrou de destacar que,
200 anos antes, ainda que de forma mais humilde, Francisco de
Assis já havia tentado algo semelhante. E que a luta de Lutero teve
prosseguimento, tanto que, 200 anos depois dele, o nosso Castro
Alves já se valia, no mesmo sentido destes brilhantes versos:
Quebre-se o cetro do Papa
Faça-se dele uma cruz
Que a púrpura sirva ao povo
Pra cobrir os ombros nus.
Em suma, o povo, protagonista maior da História, não deve ser
alijado de qualquer importante decisão no bojo dessa mesma
História, porque, afinal, lenta ou aceleradamente, ele retoma o
Sobre a corrupção
75