O imprevisível 2018 PD49 | Page 71

lar as instituições em favor da sociedade, corremos o risco de assistir repetecos infindáveis dessa história. Sem que haja a desejada renovação política, tampouco é possí- vel esperar que as reformas econômicas de que necessitamos sairão do papel sem serem desvirtuadas e distorcidas. O lastro de qualquer reforma é a credibilidade do governo que a propõe – a reforma da Previdência está aí como exemplo. Inicialmente formu- lada pelos princípios corretos, hoje está profundamente diluída e descaracterizada em nome da sobrevivência política daqueles que ainda andam com desenvoltura por Brasília, apesar de seus desmandos e tropeços, áudios e visitas. Não falo apenas do presi- dente da República e de seu círculo íntimo de assessores defenes- trados, mas do senador e ex-candidato à Presidência em 2014. Que respaldo terá uma reforma aprovada por esse senhor e por outros de seus colegas no Congresso Nacional também envolvidos em atos escusos? O que é melhor, fazer uma reforma da Previdên- cia de qualquer jeito, deixando de fora boa parte das causas prin- cipais de nossos problemas fiscais de médio prazo por conveniência política, ou aguardar os resultados de outubro de 2018? Sem querer exagerar a relevância da experiência de nossos vizi- nhos, a Argentina parece estar conseguindo fazer a renovação polí- tica, o que aumenta as chances de que boas reformas, respaldadas pela credibilidade conferida pelas urnas, sejam levadas a cabo. Há no Brasil muita movimentação e pressão para que venha a renovação. Movimentos como o Agora! e outros estão empenhados em promover mudanças políticas que garantam a modernização institucional, sem a qual as necessárias reformas sofrerão o mesmo destino de tantas outras feitas por nós e por outros países, o roteiro delineado por Acemoglu e Robinson mundo afora. Ao mesmo tempo, há um sentimento inexplicável de nostalgia por um passado inexistente, uma onda que tenta pregar o libera- lismo na economia e o retrocesso nas questões sociais, levantando a bandeira de um conservadorismo velho, gasto, que parecia em vias de extinção. Este conservadorismo corre o risco de abraçar o que aí está com caras supostamente novas, mas que não necessa- riamente defendem a renovação institucional. O conservadorismo mais puro é aquele que prega que “tudo mude para que nada mude”, como escreveu Giuseppe di Lampe- dusa. É isso o que precisamos evitar em 2018. A falência das nações 69