Lições de democracia
João Rego
Para Vinicius Rego, meu neto de 18 anos
T
enho encontrado, nas redes sociais e no círculo de amigos
e parentes, pessoas indignadas com o caótico processo
político que se instalou no país desde que, com a Opera-
ção Lava-Jato, os escândalos de corrupção se foram sucedendo,
destruindo mitos e desnudando lideranças que antes eram refe-
renciais de moralidade para seus eleitores.
Não nego que estamos passando por um momento de grande
desafio político, como também não deixo de ver por trás dessa
ação da Justiça – mesmo que com alguns excessos – um impor-
tante momento de fortalecimento da nossa democracia, posto que,
no âmbito da política, novos padrões de comportamento se impo-
rão por força de lei – com mais transparência e ética.
Alguns, aturdidos, veem nos extremos do espectro ideológico a
solução para o país sair da crise. De um lado, os eleitores de Lula,
em sua grande maioria os beneficiados pelas políticas sociais que
mudaram suas vidas, mesmo que seu partido, comprovadamente,
tenha se imiscuído, assim como os outros, nas práticas de corrup-
ção; do outro, os que veem em Bolsonaro, com seu discurso de
direita radical, uma solução para “tudo que está aí”– um perigoso
e simplista desejo de resolver na base da força, onde a intolerância
e a violência são seus principais combustíveis ideológicos.
No centro do espectro ideológico paira sobre nós um enigmá-
tico vazio.
O que apresentarei a seguir, embora o título possa parecer
pretensioso, são breves reflexões sobre democracia, fruto de
minhas observações pessoais, as quais compartilho com você,
leitor, com a intenção de ajudá-lo a entender, e talvez a posicio-
nar-se como cidadão diante do que estamos enfrentando.
1. A democracia se impôs, no século 20, como o principal valor
universal de modelo de governo em uma sociedade. Embora prática
de governo criada embrionariamente pelos gregos, no século V a.C,
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