O imprevisível 2018 PD49 | Page 49

O ovo da serpente Anivaldo Miranda N ão é a primeira vez que as polarizações estúpidas colocam nuvens sombrias sobre o horizonte do Brasil. Aprender com o que ocorreu em passado não distante, quando da implantação da ditadura militar, e com outros momentos da histó- ria brasileira, é importante ferramenta para impedir que a obtusi- dade política que sempre aparece em momentos de crise institucio- nal imponha novos retrocessos no difícil caminho de construção, consolidação e aperfeiçoamento da democracia brasileira. O golpe militar de 1964 nos ensinou o quanto é decisivo para o futuro da democracia respeitar as regras do jogo. Por regras do jogo entende-se a Constituição, ainda que imperfeita, mas inteira- mente passível de evoluções em seu conteúdo desde que fruto de consensos sempre possíveis de serem alcançados com o funciona- mento regular dos poderes da República e das liberdades civis. Foi exatamente por ignorar essa primazia da ordem constitu- cional que esquerda e direita pavimentaram, sob o influxo da “Guerra Fria” e das ameaças à Constituição, o caminho da dita- dura cujos reflexos negativos para a convivência e cultura demo- cráticas ainda hoje atormentam o Brasil. Tirar lições daquele processo é, portanto, fundamental para combater no nascedouro a onda de polarização atual que coloca no centro do debate e do embate políticos forças corporativas e reacionárias, de esquerda e de direita, que manipulam com destreza, sobretudo nas redes sociais, as frustrações momentâ- neas da população e sua ausência de memória histórica, para requentar velhas fórmulas e crenças que fazem da simplificação grosseira da realidade, da intolerância, dos mitos, do preconceito e, sobretudo, da aversão ao diálogo o combustível para movimen- tos e candidaturas presidenciais que sufocam o debate que o país precisa fazer com responsabilidade e ameaçam verdadeiramente a qualidade da disputa e do desfecho das próximas eleições numa direção perigosa para a democracia, Estas lições às quais nos referimos são válidas, a partir do centro, para todo o espectro da política excetuados, é claro, os 47