O imprevisível 2018 PD49 | Page 48

Referendar estudos contaminados sobre a saúde do Estado é fechar os olhos para governos estaduais. Mesmo com todos os desmandos políticos e toda a corrupção instalada, negar o déficit é quase uma covardia com os que virão. O mais contraditório disso está no fato de os sindicatos se apoiarem na base mais fisio- lógica do governo federal no Congresso Nacional para isolar qual- quer possibilidade de debate. Rombo O rombo do Instituto Nacional do Seguro Social (lNSS) chega hoje a R$ 150 bilhões. Temos ainda uma conta de mais R$ 77 bilhões no serviço público – e não adianta a tal conversa do tal fundo do funcionalismo, pois o Estado continua a ser mais do que generoso com a turma. Antes da sanha endoidecida recair sobre este articulista, entretanto, vale dizer que, sim, há poucas iniciativas mais nobres e efetivas do que oferecer proteção ao servidor público. Um Estado só avança com políticas públicas elaboradas por gente séria e com estabilidade, livre de pressões e perseguições políticas. Mas isso não significa que os funcionários possam inviabilizar uma discussão necessária e urgente, independentemente de ser travada por governos de centro, direita ou esquerda. Na falsa polêmica dos contrários a qualquer reforma, os mais prejudicados seriam os mais pobres. Como se disse, é falso e, mais uma vez, um argumento covarde na tentativa de justificar a manutenção de privilégios. Um país, para apresentar qualquer crescimento, precisa de crescimento sustentável e de igualdade social. Apenas uma socie- dade justa é capaz de se proteger do autoritarismo e de defender políticas mais amplas, favoráveis ao crescimento, implodindo uma casta política. Assim, mesmo que o governo Michel Temer não consiga mexer no texto da Previdência, as mudanças serão feitas um dia, caso o país pretenda oferecer algum alento para a população mais pobre. Apenas um candidato cínico será capaz de ser contra mudanças previdenciárias. E teremos um encontro marcado com a reforma, queiram os corporativistas ou não. O Planalto sabe das dificulda- des de votar o texto até o fim do ano. As chances de o país voltar à inflação e aumentar o desem- prego parecem reais, distantes de qualquer chance efetiva de crescimento. A saída seria acreditar que os concorrentes ao Palá- cio do Planalto sejam capazes de abrir a discussão com a socie- dade. Mas aí é ser otimista em demasia. Não custa. 46 Leonardo Cavalcanti