Referendar estudos contaminados sobre a saúde do Estado é
fechar os olhos para governos estaduais. Mesmo com todos os
desmandos políticos e toda a corrupção instalada, negar o déficit
é quase uma covardia com os que virão. O mais contraditório
disso está no fato de os sindicatos se apoiarem na base mais fisio-
lógica do governo federal no Congresso Nacional para isolar qual-
quer possibilidade de debate.
Rombo
O rombo do Instituto Nacional do Seguro Social (lNSS) chega
hoje a R$ 150 bilhões.
Temos ainda uma conta de mais R$ 77 bilhões no serviço público
– e não adianta a tal conversa do tal fundo do funcionalismo, pois o
Estado continua a ser mais do que generoso com a turma. Antes da
sanha endoidecida recair sobre este articulista, entretanto, vale
dizer que, sim, há poucas iniciativas mais nobres e efetivas do que
oferecer proteção ao servidor público. Um Estado só avança com
políticas públicas elaboradas por gente séria e com estabilidade,
livre de pressões e perseguições políticas. Mas isso não significa que
os funcionários possam inviabilizar uma discussão necessária e
urgente, independentemente de ser travada por governos de centro,
direita ou esquerda. Na falsa polêmica dos contrários a qualquer
reforma, os mais prejudicados seriam os mais pobres.
Como se disse, é falso e, mais uma vez, um argumento covarde
na tentativa de justificar a manutenção de privilégios.
Um país, para apresentar qualquer crescimento, precisa de
crescimento sustentável e de igualdade social. Apenas uma socie-
dade justa é capaz de se proteger do autoritarismo e de defender
políticas mais amplas, favoráveis ao crescimento, implodindo uma
casta política.
Assim, mesmo que o governo Michel Temer não consiga mexer
no texto da Previdência, as mudanças serão feitas um dia, caso o
país pretenda oferecer algum alento para a população mais pobre.
Apenas um candidato cínico será capaz de ser contra mudanças
previdenciárias. E teremos um encontro marcado com a reforma,
queiram os corporativistas ou não. O Planalto sabe das dificulda-
des de votar o texto até o fim do ano.
As chances de o país voltar à inflação e aumentar o desem-
prego parecem reais, distantes de qualquer chance efetiva de
crescimento. A saída seria acreditar que os concorrentes ao Palá-
cio do Planalto sejam capazes de abrir a discussão com a socie-
dade. Mas aí é ser otimista em demasia. Não custa.
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Leonardo Cavalcanti