No campo do Direito, é Weber o ignorado em sua veemente
recusa às pretensões “patéticas”, em suas palavras, dos juízes
que se comportam nos seus julgamentos em “nome de postulados
de justiça social”. Exemplares, no caso, os juízes que desafiam a
ordem racional-legal ao recusarem, em nome do que sua corpora-
ção entende como o justo, a aplicação a lei da reforma da Conso-
lidação das Leis do Trabalho, a CLT.
Quem busca o futuro opera no plano do aqui e agora a partir
de experiências acumuladas – a História não conhece o tempo
vazio. Há sempre um começo, uns mais felizes que outros por
propiciarem um terreno seguro para o bom andamento de suas
sociedades, tal como Tocqueville caracterizava a singularidade
do caso americano; outros, ao contrário, vão exigir esforços
sempre renovados a fim de que a sociedade venha a encontrar,
por ensaio e erro, um sistema de ordem que favoreça a sua repro-
dução ao longo do tempo.
Em nosso caso, dadas as condições de origem – uma colônia
de exploração que logo recorreu ao trabalho escravo –, os “cami-
nhos para a civilização”, que não nos seriam naturais, deveriam
proceder de cima pela ação de uma elite a exercer um papel peda-
gógico que nos trouxesse da barbárie às luzes do ideário do libe-
ralismo político, na luminosa análise de Euclides da Cunha em
ensaio famoso. Desde aí o acesso ao moderno nos viria da ação de
elites ilustradas, fórmula conservada pela República ao longo do
processo de moderniz ação que vai de Vargas a Lula.
Somos filhos dessa longa construção, de cujos lógica, arqui-
tetura e estilo começamos a nos desprender quando o governo de
Dilma Rousseff, distante um oceano do pragmatismo do seu
mentor, hipotecou, em nome de suas convicções pessoais, a sorte
da sua administração na tentativa arriscada de conceder sobre-
vida ao que, à vista de todos, Lula incluído, mais se assemelhava
a um caso terminal. A própria presidente Dilma, logo após sua
reeleição, vai reconhecer a exaustão do modelo vigente de capi-
talismo de Estado ao nomear o liberal Joaquim Levy para o
Ministério da Fazenda.
Nesse sentido, o impeachment importou bem mais do que uma
trivial crise política, na medida em que trouxe consigo a crítica da
modelagem do nosso capitalismo centrado no papel do Estado,
levado a uma situação falimentar no governo Dilma, crítica que se
radicalizou quando foram sentidos os efeitos nefastos da severa
depressão econômica que se abateu sobre o país. O passado
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Luiz Werneck Vianna