O imprevisível 2018 PD49 | Page 35

A sucessão e o novo espírito do tempo Luiz Werneck Vianna A política brasileira encontra-se criptografada, indecifrável para os mortais comuns, que a cada dia são aturdidos pelos meios de comunicação com notícias de que o fim do nosso mundo está próximo e não há o que fazer para salvá-lo do pântano da corrupção em que estaria atolado. Nossos profetas do apocalipse são prisioneiros de suas fabula- ções sobre a História do país, que identificam como um experi- mento malsucedido a ser “passado a limpo” por sua intervenção redentora. Querem nos fazer crer que atuam em nome de ideais e sem interesse próprio, mas o gato está escondido com o rabo de fora, pois em meio à alaúza que provocam se pode entrever a manipulação da sucessão presidencial de 2018. Esta sucessão abre uma janela de oportunidades para uma agenda inovadora que procure, em meio a um amplo processo de deliberação pública, identificar novos rumos legitimados pelo voto para o país. No entanto, caso se frustre esse caminho por desas- tradas ações dos agentes políticos, pode apontar para o derrui- mento do regime da Carta de 88, concedendo passagem às potên- cias malignas que ora nos espreitam. O cenário que se tem pela frente, é forçoso reconhecer, não favorece previsões de desenlaces felizes para os dilemas com que ora nos confrontamos. Aqui, ao que parece, Maquiavel foi banido do nosso repertório político desde o advento da Operação Lava-Jato, há três anos presença dominante na conjuntura sem que, salvo exceções, a copiosa literatura que lhe é dedicada leve em conta as circunstân- cias que envolvem as ações dos atores e dos fins que erratica- mente perseguem. Desarmados de suas lições, anacronicamente recuamos ao medievo, atribuindo-se – “maquiavelicamente”? – precedência dos valores da moralidade sobre a razão política. Ignora-se que o realismo político que Maquiavel preconizava estava a serviço de um ideal cívico, qual seja o de criar na Itália um Estado capaz de livrá-la da dominação estrangeira. 33