O imprevisível 2018 PD49 | Page 34

respeitadas; processo econômico eficiente e tecnologicamente avançado. Avançamos, mas ficamos para trás em relação ao resto do mundo e aos nossos sonhos. O principal entrave para o país avançar, de maneira satisfató- ria, está na concepção obsoleta de progresso, no individualismo, na continuação do aristocracismo, na permanência do sentimento escravocrata: o progresso é visto apenas como aumento do PIB, mesmo com baixa produtividade e reduzida renda per capita, com destruição da natureza e concentração de renda social; a educa- ção de base com qualidade para todos, independentemente da classe, não é vista como condição para o progresso econômico e social; a universidade é vista apenas como escada social para cada aluno, não como alavanca para o progresso nacional da humanidade. O individualismo, o imediatismo e o conservado- rismo são sentimentos arraigados que impedem o rumo em dire- ção a uma nova modernidade. A eleição de 2018 pode ser mais um risco de apenas mudar os nomes dos dirigentes, sem mudar a realidade política, econômica e social do Brasil; ou pode ser o momento do debate pela mudança fundamental que o país precisa na direção de seu futuro. É muito possível que o debate do novo não eleja políticos hoje, mas há momentos na história em que tal debate é mais importante do que a ilusão de cargos para manter o país em uma direção que conti- nuará sua marcha rumo a um projeto antigo que já se esgotou. Cada partido deve escolher entre ser um farol para o novo, mesmo sob o risco do fracasso no presente, ou adaptar-se ao escuro do túnel em direção a um desastre social próximo: a continuação do atraso e o aprofundamento da desarticulação social. O Brasil precisa mais de partidos-farol, mesmo que na oposição, do que partidos no poder, viciados no túnel sem luz em que estamos. 32 Cristovam Buarque