Coesão, rumo e esperança
Cristovam Buarque
E
m 2018, o Brasil vai eleger o presidente que dirigirá as
festividades do segundo centenário de nossa Independên-
cia e governará o primeiro ano de nosso terceiro cente-
nário. Chegamos a este momento com o país em um processo
de desagregação social: violência generalizada; persistência de
pobreza e de concentração de renda, tanto social quanto regional;
descrédito político; instabilidade jurídica; déficits fiscais; endivi-
damento geral; meio ambiente degradado; defesa nacional amea-
çada pela falta de Forças Armadas bem equipadas.
No tempo em que ocorre uma profunda revolução tecnológica
no mundo, o país ingressará no seu terceiro centenário com baixa
produtividade, falta de competitividade e inovação, educação
precária e desigual, baixa capacidade para criação de ciência e
tecnologia. Um país sem unidade no presente e sem sintonia com
o futuro da humanidade.
Se esta situação perdurar por mais algumas décadas, além das
dramáticas consequências da desagregação social, o país ficará
para trás no cenário das transformações que ocorrem no mundo.
Aconteceu isso na Primeira Revolução Industrial, quando preferi-
mos as amarras da escravidão e da economia agrícola exportadora,
sem buscar capacidade educacional ou técnica, nem a dinâmica do
trabalho livre. Também na Segunda Revolução, quando escolhe-
mos o protecionismo, a falta de educação, de ciência e tecnologia,
mantendo a economia primária agrícola e metalmecânica.
Mais uma vez, estamos ingressando em novos tempos sem os
necessários ajustes social, econômico, educacional, científico e
tecnológico; sem instituições políticas eficientes e sob grave crise
moral. Ao descrédito na política, soma-se a falta de visões que orien-
tem o rumo do país, de acordo com as tendências do mundo em
rápida transformação. Além dos maus políticos que nos conduziram
a esta situação, não contamos com filosofias políticas apontando
orientação conceitual ao processo de evolução social e econômica.
Mesmo sem esta orientação, o próximo governo deverá trazer
à sociedade brasileira uma estratégia que, sem ignorar a crise no
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