Ao se engalfinharem em confrontos artificiais ou secundários,
os “guerreiros” perdem de vista aquilo a que se deve dar priori-
dade. Vão ajudando a produzir quantidades absurdas de informa-
ção de má qualidade, saturando a agenda de proposições exclu-
dentes que nada acrescentam à construção democrática ou ao
reformismo de que se necessita.
Esta modalidade inconsciente de burrice não é privilégio de
nenhuma corrente política ou ideológica. É comum a todas.
Ela se mostra, à esquerda, pelas lentes do maniqueísmo e do
esquematismo, que anunciam um “novo mundo” que estaria ao
alcance da mão, bastando tão somente uma boa dose de intransi-
gência, de espírito contestador e de “vontade política”.
O bestialógico mais à direita é seguramente muito pior. Agrega
gente que não se envergonha de praticar o reacionarismo mais tosco,
burilando-o com frases de efeito e justificativas pífias. São pessoas
que exibem publicamente sua simplicidade argumentativa, que
falam de “marxismo cultural” sem saber do que estão falando, que
manipulam descaradamente alguns gigantes do pensamento crítico
(Marx, Benjamin, Gramsci, Marcuse) e são incapazes de reconhecer
as sutilezas da política e do debate de ideias.
Para gente desse último tipo, tudo que questiona o que está
errado, tudo que canta um futuro mais justo, tudo que divulga
sonhos e esperanças cabe em uma única caixinha: “comunistas”,
que não somente comem criancinhas como querem infernizar a
vida de todos e envenenar a alma dos viventes.
Seja qual for o ângulo a partir do qual se olhe, o fato é que
aquilo que tem sido chamado de “velha política” estrebucha, mas
nos seus estertores mostra força para bloquear o surgimento de
uma “nova política”.
Um centro inclinado à esquerda
A agenda complexa, a falta de clareza intelectual, a excitação
ideológica e a fragmentação política funcionam entre nós como
engrenagens que movimentam uma máquina polarizadora.
Pouco se faz para enfrentar esse quadro desagregador, que se
vai naturalizando. Fala-se muito em “centro democrático” mas ele
não se materializa, com o que não se introduz mais racionalidade
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Marco Aurélio Nogueira