Se não há consenso sobre quase nada, por que na política os
polos não cresceriam? Se os próprios partidos não conseguem
preservar seu molejo democrático e sua capacidade de alcançar
uma autêntica “unidade dos distintos”, que autoridade teriam
para condenar as polarizações?
O problema surge quando as polarizações fogem do controle e
se artificializam, traduzindo-se em tensões insuperáveis, rupturas
e intolerância. Podem assim se tornar crônicas, levando ao infinito
a dialética amigo-inimigo e corroendo as bases mesmas de um
consenso mínimo. Com isso, o que poderia haver de virtude nas
polarizações se traduz por inteiro em seu contrário. Todos perdem.
Com mais polarizações, aumenta a tentação de enquadrar
tudo em esquemas binários tipo esquerda x direita. Com isso,
pela própria dinâmica da luta ideológica radicalizada, deixa-se de
lado o diagnóstico em benefício da agressividade verbal, do ardor
retórico, do exagero performático. Para que tenha efeito, tudo é
simplificado ao extremo, vira coisa plana, rasteira.
Vai-se assim num crescendo. No topo da escalada, o convite à
boçalização cívica, o empobrecimento político, o desprezo pelos
adversários ou pelos que pensam diferente, tudo devidamente
empacotado por convicções e propagandas que simulam soluções
rápidas e radicais, facilidades e biografias heroicas. Mentiras,
invencionices e mistificações ganham livre curso.
É uma “guerra” complicada, pois não são se limita aos entre-
choques ideológicos. Entram na liça também as opiniões – sempre
mais desenfreadas – e as identidades, que se afirmam por sobre
classes, grupos de referência e partidos. Tudo devidamente turbi-
nado pelas redes, onde as propostas para que se criem conexões e
“pontes” (bridging) são fuziladas como se estivessem a priori
comprometidas com concessões inadmissíveis. É nas redes, aliás,
que melhor se expressa