O imprevisível 2018 PD49 | Page 246

Gramsci viu a partir da prisão continua aí, provavelmente ainda maior e mais terrível. Não temos o fascismo dos anos 20 e 30, mas a complexidade do capitalismo global desafia toda e qualquer inte- ligência não dialética, seja pela volúpia adquirida pelos mercados e pelas desigualdades que deles derivam, seja pelas ameaças que faz a conquistas sociais importantes, seja pela “desorganização” que está gerando no âmbito dos Estados e da política. É um mundo marcado pela insegurança e pela incerteza, no qual a ação política se mostra sempre mais importante mas não consegue fornecer diretrizes consistentes à dinâmica social e aos cidadãos. Uma época de “revolução passiva”, como diria Gramsci, na qual os fatos se afirmam sem direcionamento e a participação é intensa mas pouco produtiva. Nela, tornou-se decisivo buscar consensos e agir para criar na “sociedade civil” áreas de disputa por “hegemonia” (outro conceito gramsciano) que representem possibilidades efeti- vas de democratização, sem ameaças à liberdade e ao pluralismo, que são inerentes à modernidade atual. 244 Leonardo Cazes