cos que assistem à decomposição de seus entes estruturadores
ficam mais fracos e com menor capacidade de articulação. O país
fica sem eixo e de certo modo menos democrático. Passa-se o
mesmo com o enfraquecimento do PT.
O PSDB tem uma história. Como toda história, teve seus altos
e baixos mas, vista em bloco, foi até aqui mais positiva que nega-
tiva. O partido definiu uma identidade e acumulou alguns trun-
fos importantes, o que fornece um patrimônio que poderá ajudá
-lo a recuperar o fôlego e a sensatez, expurgando o que deve ser
expurgado e formulando uma nova e mais substantiva agenda.
Polarizações destrutivas
PSDB em crise, PT recolhido, PMDB às voltas com as dificul-
dades de Temer, partidos em geral excitados com a proximidade
de 2018. Todos começam a fazer cálculos, tendo em mente a
conquista dos eleitores. O troca-troca de legendas combina-se
com a abertura da temporada de caça aos “melhores nomes” e a
busca da posição ideal para apoiar esse ou aquele candidato.
O estoque de artefatos polarizadores é grande: avanço ou
retrocesso, reforma ou conservação, progresso ou reação, popu-
lismo ou responsabilidade, desenvolvimentismo ou neolibera-
lismo. Não faltam, evidentemente, os conhecidos esquerda x
direita e PT x PSDB, ora em versões repaginadas ora no formato
anquilosado de sempre.
A pergunta que ninguém faz é: a quem interessa a reposição
dessas polarizações? Qual delas pode expressar os dilemas atuais
do país e organizar os interesses fundamentais dos cidadãos?
O ponto comum dessas construções é a recusa ao diálogo, a
reiteração de divisões improdutivas, a falta de uma articulação
política que ofereça uma perspectiva de futuro para os brasileiros
e modernize o país. Para dar vida a isso, criam-se campos ideoló-
gicos antípodas, soltos no ar, alimentados por frases de efeito e
sem pé na realidade. Parte-se de uma visão de que a sociedade é
mais dividida do que se vê, e com isso criam-se divisões por sobre
divisões, agravando ainda mais o quadro.
Polarizações não devem ser temidas. São intrínsecas ao jogo
político e ganham peso quanto mais a situação social é complexa,
quanto mais a agenda nacional é difícil e desafiadora, quanto
mais o poder se mostra disponível.
22
Marco Aurélio Nogueira