O imprevisível 2018 PD49 | Page 24

cos que assistem à decomposição de seus entes estruturadores ficam mais fracos e com menor capacidade de articulação. O país fica sem eixo e de certo modo menos democrático. Passa-se o mesmo com o enfraquecimento do PT. O PSDB tem uma história. Como toda história, teve seus altos e baixos mas, vista em bloco, foi até aqui mais positiva que nega- tiva. O partido definiu uma identidade e acumulou alguns trun- fos importantes, o que fornece um patrimônio que poderá ajudá -lo a recuperar o fôlego e a sensatez, expurgando o que deve ser expurgado e formulando uma nova e mais substantiva agenda. Polarizações destrutivas PSDB em crise, PT recolhido, PMDB às voltas com as dificul- dades de Temer, partidos em geral excitados com a proximidade de 2018. Todos começam a fazer cálculos, tendo em mente a conquista dos eleitores. O troca-troca de legendas combina-se com a abertura da temporada de caça aos “melhores nomes” e a busca da posição ideal para apoiar esse ou aquele candidato. O estoque de artefatos polarizadores é grande: avanço ou retrocesso, reforma ou conservação, progresso ou reação, popu- lismo ou responsabilidade, desenvolvimentismo ou neolibera- lismo. Não faltam, evidentemente, os conhecidos esquerda x direita e PT x PSDB, ora em versões repaginadas ora no formato anquilosado de sempre. A pergunta que ninguém faz é: a quem interessa a reposição dessas polarizações? Qual delas pode expressar os dilemas atuais do país e organizar os interesses fundamentais dos cidadãos? O ponto comum dessas construções é a recusa ao diálogo, a reiteração de divisões improdutivas, a falta de uma articulação política que ofereça uma perspectiva de futuro para os brasileiros e modernize o país. Para dar vida a isso, criam-se campos ideoló- gicos antípodas, soltos no ar, alimentados por frases de efeito e sem pé na realidade. Parte-se de uma visão de que a sociedade é mais dividida do que se vê, e com isso criam-se divisões por sobre divisões, agravando ainda mais o quadro. Polarizações não devem ser temidas. São intrínsecas ao jogo político e ganham peso quanto mais a situação social é complexa, quanto mais a agenda nacional é difícil e desafiadora, quanto mais o poder se mostra disponível. 22 Marco Aurélio Nogueira