análise da modernização conservadora brasileira e suas comple-
xas superestruturas.
Sua vida, pelo modo, lugar e tempo de sua concretização, pode-
ria ser designada como a de um homem derrotado. Na escuridão de
uma época, fez valer a extraordinária força moral e o rigor intelec-
tual do homem que, sem se deixar abater, fez de suas derrotas
novas fontes de energia para recomeçar e avançar. Suportou seu
destino com coragem e sobriedade intelectual, sem concessões ao
vulgar e ao patético, conservando sempre o controle racional dos
sentimentos. Diante disso, como resistir à tentação de falar sobre
Gramsci e sua obra tão rica e fecunda, dando-lhe, ao mesmo tempo,
o papel de herói num mundo cheio de vilões teóricos?
Referindo-se a Marx, Norberto Bobbio diz que, para garantir
um lugar entre os clássicos, um pensador deve obter o reconheci-
mento de três qualidades: a) deve ser considerado como intérprete
tão importante da época em que viveu que não se possa prescin-
dir de sua obra para conhecer o “espírito do tempo”; b) deve ser
sempre atual, no sentido de que cada geração sinta necessidade
de relê-lo, e, relendo-o, dedique-lhe uma nova interpretação; c)
deve ter elaborado categorias gerais de compreensão histórica das
quais não se possa prescindir para interpretar mesmo uma reali-
dade distinta daquela a partir da qual derivou essas categorias e
à qual as aplicou. 12 Esta afirmação caberia também para Gramsci?
Ninguém hoje duvida de que deva ser considerado um clássico na
história do pensamento.
Finalmente, nessa pequena homenagem, não poderia faltar um
trecho de sua carta de 10 de maio de 1928, enviada para a mãe:
“Gostaria muito de abraçá-la bem apertado para que sentisse o
quanto eu gosto de você e como gostaria de consolá-la por esse
desgosto que lhe dei, mas não podia agir de outro modo. A vida é
assim, muito dura, e os filhos algumas vezes têm de dar grandes
desgostos às suas mães, se querem conservar a sua honra e a sua
dignidade de homens”. 13
12 Bobbio, Norberto. Teoria geral da política. A filosofia política e as lições dos
clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 114.
13 Fiori, Giuseppe. A vida de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979,
p. 360.
Gramsci, nos oitenta anos da morte
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