O imprevisível 2018 PD49 | Page 230

tuais ( a coleção , os estudiosos citados na quarta-capa e na orelha , por exemplo ) tenha sido concebida e realizada para apresentar Gramsci como um clássico do pensamento político ?
Assim como é preciso contextualizar a primeira edição ( Noênio Spinola ) das Cartas , deve-se também ver que a nova edição sai no meio de dez volumes que compõem as Obras de A . Gramsci . Devese a Carlos Nelson Coutinho , Marco Aurélio Nogueira e a mim a preparação dos seis volumes dos Cadernos do cárcere , cujo critério temático-crítico está amplamente justificado na Introdução escrita pelo Carlos Nelson ao primeiro volume .
Depois dividimos as tarefas : o Carlos Nelson cuidou dos escritos pré-carcerários , eu próprio cuidei das Cartas . Desta vez havia plena consciência da importância destas últimas para a compreensão do homem e mesmo do pensador Gramsci . Havia as novas conexões possibilitadas pela internet ( com intelectuais da International Gramsci Society e outros da área italiana , com intelectuais americanos , como o Frank Rosengarten , com as mexicanas Dora Kanoussi e Cristina Ortega Kanoussi , com o Antonio A . Santucci , todos eles envolvidos com as Cartas nos seus respectivos países ). Da minha parte , sempre entendi que Gramsci era simultaneamente um homem de seu tempo e um clássico com amplas relações com o mundo da cultura , com liberais como Croce , com grandes intelectuais como Sraffa e Togliatti , com o mundo da política , que era propriamente o seu “ chão ”.
Sobre a escolha das pessoas que apresentariam os dois volumes , creio ter sido criteriosa , como de resto para todo o conjunto das “ Obras ”. Ferreira Gullar , um grande poeta , egresso do velho PCB , assina a orelha do primeiro volume e avaliza o elemento literário presente nas Cartas ; Santucci assina a quarta-capa , ele que organizou uma elogiável edição italiana ( Ed . Sellerio ). Francisco Fernández Buey , marxista avesso a reduções simplificadoras e estudioso ( também ) do Gramsci-indivíduo , assina a segunda orelha ; de José Guilherme Merquior , amigo de Carlos Nelson e Leandro Konder , aproveitamos um texto que sublinha a ligação de Gramsci com a alta cultura e as tendências modernas . Merquior , talvez inconscientemente , tenha sido aqui uma espécie de Croce – ambos grandes intelectuais liberais , adversários do marxismo em grande estilo , interlocutores que honram qualquer adversário e , na verdade , enriquecem este adversário . Então , estas escolhas significaram , sim , um modo de ( re ) apresentar o autor sardo ao leitor
228 Gesualdo Maffia