O imprevisível 2018 PD49 | Page 227

Gramsci buscaram uma tradução dos seus conceitos para nossas circunstâncias. Da década de 1970 para cá, parecia haver consenso na assimilação dos conceitos do pensador sardo, mas a realidade não confirmou essa tese. Hoje há uma disjuntiva explícita: de um lado, o Gramsci da “política democrática”, ou seja, da política-hegemonia, enquanto “hegemonia civil”, não mais “proletária” ou “socialista”; de outro, o Gramsci da “política revolucionária”. Na primeira “leitura”, a revolução não é mais o centro da elaboração política e a perspec- tiva se deslocou no sentido de exercitar o conceito de revolução passiva até seus limites, isto é, acionar permanente e intransigen- temente a política democrática visando a inverter a longa “revolu- ção passiva à brasileira” (Werneck Vianna), de marca autoritária e excludente, e dar-lhe novo direcionamento. Aqui estamos diante de uma tradução do Gramsci que se descolou da sua originária demarcação revolucionária e se distan- ciou de um marxismo que ainda tem como referência uma época histórica de revoluções. É isso que lhe dá o viço ainda hoje. Inver- samente, o “outro” Gramsci permanece prisioneiro de uma repre- sentação construída a partir de um duplo sentido: representação de classe, como o fora anteriormente, numa perspectiva revolucio- nária, e, noutro sentido, como representação da conservação e difusão de um imaginário revolucionário do qual se querem resguardar os signos e significados de uma época revolucionária terminada há décadas. A disjuntiva gramsciana 225