Gramsci buscaram uma tradução dos seus conceitos para nossas
circunstâncias. Da década de 1970 para cá, parecia haver
consenso na assimilação dos conceitos do pensador sardo, mas a
realidade não confirmou essa tese.
Hoje há uma disjuntiva explícita: de um lado, o Gramsci da
“política democrática”, ou seja, da política-hegemonia, enquanto
“hegemonia civil”, não mais “proletária” ou “socialista”; de outro,
o Gramsci da “política revolucionária”. Na primeira “leitura”, a
revolução não é mais o centro da elaboração política e a perspec-
tiva se deslocou no sentido de exercitar o conceito de revolução
passiva até seus limites, isto é, acionar permanente e intransigen-
temente a política democrática visando a inverter a longa “revolu-
ção passiva à brasileira” (Werneck Vianna), de marca autoritária
e excludente, e dar-lhe novo direcionamento.
Aqui estamos diante de uma tradução do Gramsci que se
descolou da sua originária demarcação revolucionária e se distan-
ciou de um marxismo que ainda tem como referência uma época
histórica de revoluções. É isso que lhe dá o viço ainda hoje. Inver-
samente, o “outro” Gramsci permanece prisioneiro de uma repre-
sentação construída a partir de um duplo sentido: representação
de classe, como o fora anteriormente, numa perspectiva revolucio-
nária, e, noutro sentido, como representação da conservação e
difusão de um imaginário revolucionário do qual se querem
resguardar os signos e significados de uma época revolucionária
terminada há décadas.
A disjuntiva gramsciana
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