O imprevisível 2018 PD49 | Page 22

Uma “nova política” só tem como se viabilizar se estiver de algum modo articulada com o que existe de “política tradicional”. Ela é que poderá dar aos que chegam agora o projeto, o arco de forças, o potencial de crescimento. As pontes. Hoje, no Brasil, são muitos os que estão sinceramente em busca de alguma opção que tenha brilho e força suficientes para furar essa verdadeira muralha da China que converteu a política nacional em um recinto blindado que protege suspeitos, investi- gados, gente pouco qualificada, mas que tem o mapa nas mãos. É um recinto que tritura, enquadra e pasteuriza tudo o que nele respira. Estamos mesmos necessitados de uma articulação que impulsione a renovação política e um programa mais ousado de governo nacional. Implodir essa muralha é sonho de muitos brasileiros, cansados de ver sempre os mesmos fazer sempre as mesmas coisas, indiferentes seja ao clamor da massa pobre e excluída, seja às expectativas políticas, morais e culturais dos setores mais “modernos”. Erguer pontes que tragam a “nova sociedade” para a política é uma tarefa essencial nos dias atuais. Afinal, o Brasil tornou-se um arquipélago composto por ilhas que vão sendo multiplicadas pela “vida líquida”. Há muitas multidões em ação, à procura de opções, interessadas em limpar Brasília dos “maus elementos”, da corrupção, da indiferença social. É preciso dar um norte político a essas multidões. Este Brasil real cansou de polarizações vazias de substância e dedicadas tão somente a disputas de poder. A rigor, ninguém se mostra interessado nas rixas entre PT e PSDB. Muitos ainda serão levados por elas, que organizaram a política nas últimas décadas e se converteram num vício difícil de largar. Mas a maio- ria – e seguramente os habitantes dos nichos de vida líquida que crescem sem parar – querem algo mais: querem uma nova proposta, uma nova filosofia política e um novo campo democrá- tico que possa funcionar de fato como um polo generoso, refratá- rio a regressões, aberto a todos, plural e dinâmico. Novos e outsiders não podem ser tidos como fatores capazes de viabilizar a articulação democrática de que o país necessita. Devem ser bem-vindos, mas precisam descer ao chão duro da política. Ou farão parte da articulação necessária ou pouco signi- ficarão. Poderão ajudar muito, desde que emprestem sua visibili- 20 Marco Aurélio Nogueira