Uma “nova política” só tem como se viabilizar se estiver de
algum modo articulada com o que existe de “política tradicional”.
Ela é que poderá dar aos que chegam agora o projeto, o arco de
forças, o potencial de crescimento. As pontes.
Hoje, no Brasil, são muitos os que estão sinceramente em
busca de alguma opção que tenha brilho e força suficientes para
furar essa verdadeira muralha da China que converteu a política
nacional em um recinto blindado que protege suspeitos, investi-
gados, gente pouco qualificada, mas que tem o mapa nas mãos.
É um recinto que tritura, enquadra e pasteuriza tudo o que nele
respira. Estamos mesmos necessitados de uma articulação que
impulsione a renovação política e um programa mais ousado de
governo nacional. Implodir essa muralha é sonho de muitos
brasileiros, cansados de ver sempre os mesmos fazer sempre as
mesmas coisas, indiferentes seja ao clamor da massa pobre e
excluída, seja às expectativas políticas, morais e culturais dos
setores mais “modernos”.
Erguer pontes que tragam a “nova sociedade” para a política é
uma tarefa essencial nos dias atuais. Afinal, o Brasil tornou-se
um arquipélago composto por ilhas que vão sendo multiplicadas
pela “vida líquida”. Há muitas multidões em ação, à procura de
opções, interessadas em limpar Brasília dos “maus elementos”, da
corrupção, da indiferença social. É preciso dar um norte político
a essas multidões.
Este Brasil real cansou de polarizações vazias de substância e
dedicadas tão somente a disputas de poder. A rigor, ninguém se
mostra interessado nas rixas entre PT e PSDB. Muitos ainda
serão levados por elas, que organizaram a política nas últimas
décadas e se converteram num vício difícil de largar. Mas a maio-
ria – e seguramente os habitantes dos nichos de vida líquida que
crescem sem parar – querem algo mais: querem uma nova
proposta, uma nova filosofia política e um novo campo democrá-
tico que possa funcionar de fato como um polo generoso, refratá-
rio a regressões, aberto a todos, plural e dinâmico.
Novos e outsiders não podem ser tidos como fatores capazes de
viabilizar a articulação democrática de que o país necessita.
Devem ser bem-vindos, mas precisam descer ao chão duro da
política. Ou farão parte da articulação necessária ou pouco signi-
ficarão. Poderão ajudar muito, desde que emprestem sua visibili-
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Marco Aurélio Nogueira