O imprevisível 2018 PD49 | Page 216

Enquanto conversa, o filósofo demonstra grande simpatia pelo petismo, a quem defende como um governo de priorização social inédita na história recente do país. Seus argumentos vão até mesmo ao ponto de criticar a imprensa nos moldes da conhecida narrativa lulista, que trata a mídia como “golpista”. Ainda que com ligações claras com o PT e sua história, Janine Ribeiro conse- gue operar uma autocrítica rara nos meios da esquerda brasi- leira. Os erros na visão sobre os direitos humanos, o uso continuo de campanhas de difamação contra dissidentes e outras reflexões mostram a capacidade do entrevistado de reconhecer descami- nhos na história do campo progressista. Em seguida, temos o ensaio de Tarso Genro, advogado e conhe- cido dirigente petista. Ainda que usando de uma escrita refinada, Genro se mostra previsível, repetindo diagnósticos cansados do campo ao qual sempre pertenceu. Inicia com a proclamação da falência da socialdemocracia e do socialismo de tipo soviético. A primeira não teria conseguido vencer as desigualdades por onde passou, enquanto o socialismo real desembocou no autoritarismo. Na visão do ex-ministro de Lula, a democracia – percebida pela esquerda democrática como campo privilegiado da luta dos subal- ternos – acaba por se reduzir a um objeto manipulado pelo capital financeiro, que exerceria controle extralegal sobre os direitos econômicos dos povos. Vai além, ao afirmar que o Estado moderno é quem assegura este domínio. Uma reedição do velho marxismo que trata o Estado só como o “comitê executivo das classes domi- nantes”. De positivo, Genro consegue perceber a distância entre o pensamento formado nas academias e as decisões pragmáticas dos dirigentes partidários. As reflexões dos primeiros seriam lentas, com gradual efeito sobre a luta política; são as burocracias partidárias que tomam as decisões urgentes do presente. Com Sérgio Fausto, diretor-executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso, o livro alcança um dos seus momentos mais ricos. Em entrevista, Fausto discute a velha preocupação da esquerda: a igualdade. Qual seria o ponto certo da igualdade? Uma igualdade de oportunidades ou de resultados? Com argu- mentos claros, ele detalha a tese segundo a qual a igualdade de oportunidades é uma saída democrática importante, mas ela precisa garantir um equilíbrio mínimo no ponto de partida, sem falar que a política deve garantir vida digna mesmo àqueles que não “conseguiram chegar”. Ao contrário de Genro, ele não é fata- lista quanto ao papel do Estado. Para Fausto, ainda que reconhe- cendo a influência do poder econômico, não podemos abolir por 214 Adelson Vidal Alves