Enquanto conversa, o filósofo demonstra grande simpatia pelo
petismo, a quem defende como um governo de priorização social
inédita na história recente do país. Seus argumentos vão até
mesmo ao ponto de criticar a imprensa nos moldes da conhecida
narrativa lulista, que trata a mídia como “golpista”. Ainda que
com ligações claras com o PT e sua história, Janine Ribeiro conse-
gue operar uma autocrítica rara nos meios da esquerda brasi-
leira. Os erros na visão sobre os direitos humanos, o uso continuo
de campanhas de difamação contra dissidentes e outras reflexões
mostram a capacidade do entrevistado de reconhecer descami-
nhos na história do campo progressista.
Em seguida, temos o ensaio de Tarso Genro, advogado e conhe-
cido dirigente petista. Ainda que usando de uma escrita refinada,
Genro se mostra previsível, repetindo diagnósticos cansados do
campo ao qual sempre pertenceu. Inicia com a proclamação da
falência da socialdemocracia e do socialismo de tipo soviético.
A primeira não teria conseguido vencer as desigualdades por onde
passou, enquanto o socialismo real desembocou no autoritarismo.
Na visão do ex-ministro de Lula, a democracia – percebida pela
esquerda democrática como campo privilegiado da luta dos subal-
ternos – acaba por se reduzir a um objeto manipulado pelo capital
financeiro, que exerceria controle extralegal sobre os direitos
econômicos dos povos. Vai além, ao afirmar que o Estado moderno
é quem assegura este domínio. Uma reedição do velho marxismo
que trata o Estado só como o “comitê executivo das classes domi-
nantes”. De positivo, Genro consegue perceber a distância entre o
pensamento formado nas academias e as decisões pragmáticas
dos dirigentes partidários. As reflexões dos primeiros seriam
lentas, com gradual efeito sobre a luta política; são as burocracias
partidárias que tomam as decisões urgentes do presente.
Com Sérgio Fausto, diretor-executivo do Instituto Fernando
Henrique Cardoso, o livro alcança um dos seus momentos mais
ricos. Em entrevista, Fausto discute a velha preocupação da
esquerda: a igualdade. Qual seria o ponto certo da igualdade?
Uma igualdade de oportunidades ou de resultados? Com argu-
mentos claros, ele detalha a tese segundo a qual a igualdade de
oportunidades é uma saída democrática importante, mas ela
precisa garantir um equilíbrio mínimo no ponto de partida, sem
falar que a política deve garantir vida digna mesmo àqueles que
não “conseguiram chegar”. Ao contrário de Genro, ele não é fata-
lista quanto ao papel do Estado. Para Fausto, ainda que reconhe-
cendo a influência do poder econômico, não podemos abolir por
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Adelson Vidal Alves