A ideia do novo em política é sempre controvertida e está
sujeita a muitas ponderações. Novo ou novidade? Algo novo, em
política, não se apoia em currículo, fama ou visibilidade, mas em
ideias, propostas e articulação, de modo inclusive a que se façam
as devidas ligações com o que há de “velho” na vida.
Os outsiders sofrem vetos generalizados e, em geral, têm vida
curta. Dificilmente dão certo, até porque não se caracterizam por
possuir dotes organizadores expressivos, conhecimento dos
ritmos da vida pública e paciência para contornar obstáculos,
estender-se em negociações demoradas, engolir sapos e cascáveis.
Ou seja, são estranhos no ninho e tendem a ser forçados a um
aprendizado longo. A ideia de carreira política cabe aqui: não se
começa por cima, mas por baixo e pelas margens. Não é preciso
ter sido vereador ou deputado para postular uma candidatura
presidencial, mas o manual do bom-senso diz que tal experiência
funciona como uma espécie de vestibular, de preparatório, um
recurso que ajudará mais à frente.
Outsiders dificilmente entram de forma triunfal no primeiro
plano da política. Há exceções, claro. Lula não fez carreira e era
um outsider quando enfrentou Collor, em 1989, outro que só não
era um estranho no ninho porque vinha de família entranhada na
política. Lula talvez tenha perdido justamente por ser um outsider.
Tentou ser deputado, foi eleito mas nada fez com o mandato, foi um
fiasco. Seu vestibular foi a vida sindical. Dilma foi inventada por
Lula, mas não era uma estranha no ninho. Não tinha talentos
especiais, nem sequer currículo ou visibilidade, mas esteve sempre
nas proximidades do poder, conhecia alguns dos caminhos.
Ah, mas há Emmanuel Macron! Nada disso. Ele pisou num
longo terreno antes de se lançar candidato. Foi ministro, conviveu
com políticos e governos, aprendeu um monte de coisas. Venceu
não porque era “novo”, mas porque soube perceber certos sinais
emitidos pela vida social francesa e os incorporou a uma lingua-
gem política adequada, desconstruindo os grandes partidos e
ligando-se aos jovens e aos bolsões de novidade socioeconômica
que passaram a pulsar com mais força nas últimas décadas.
Os “novos” são um fetiche recorrente. Encantam e iludem.
Mantêm o público enfeitiçado, mas quando falham desencadeiam
uma imensa frustração, que faz com que sejam rapidamente
abandonados. A política prática é mais forte do que eles.
O centro, a esquerda democrática e o novo como fetiche
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