O imprevisível 2018 PD49 | Page 20

Candidatos inventados são como ilusões óticas. Mostram coisas que não vemos, que não existem ou estão distorcidas. Criam mil sensações, derivadas da “astúcia” das imagens, e em algum ponto da curva se desfazem. Dirão os estrategistas que algo precisa ser feito para chamar os cidadãos de volta para a política, para, em suma, compensar a perda brutal de legitimidade dos políticos e da própria política como tal. Parecem acreditar na improvisação e na força magné- tica que teria uma celebridade, uma estrela oculta, uma lua nova criada às pressas nas pranchetas dos marqueteiros. O pior é que, com seus inventos, vão sugestionando os caciques partidários e dando a eles a ilusão de que algo pode ser entronizado de dentro para fora na política prática. Oferecem, como facilitadora, a ideia de que é necessário encon- trar o mais perfeito “antiLula”, ou o “antiBolsonaro”, demônios que precisam ser excomungados. Querem que o “novo” seja um elemento de polarização. Os mais radicais vibram com a perspec- tiva de que o ex-presidente seja preso ou impedido de disputar as eleições. Pintam-no como um “populista” irresponsável, mas não conseguem vislumbrar como enfrentá-lo numa disputa eleitoral, que é onde os políticos devem ser julgados. O mote é dado pela perspectiva de se encontrar um quadro no qual um “nós” impre- ciso seja erguido como um dique contra Lula. É uma simplifica- ção grosseira, que só faz aumentar o prestígio dele. O fator Lula, por sua vez, ajuda a que se forjem polarizações a partir do outro lado da praça, que também tem seus artesãos e seus bruxos de plantão. A ideia é criar um cenário em que Lula ocuparia o espaço principal, ora impulsionando uma dinâmica Lula contra “eles”, ora apresentando o ex-presidente como “vítima” e o “único que pode salvar o país”. Torce-se para que as múltiplas pequenas polarizações artificiais desaguem numa grande polari- zação Lula x Bolsonaro, com a qual se imagina acomodar toda a complexa sociedade brasileira. Os esquemas maniqueístas simplórios tentam crescer mobilizando a seu favor a aparência retórica do “radicalismo”. É um quadro trágico, que ergue uma interrogação diante de 2018 e em nada ajuda a que se pense o país com olhos generosos. Ao se afastar tanto assim da s condições de possibilidade de uma competi- ção eleitoral que honre o nome da democracia, os políticos só fazem aumentar o descrédito de que gozam na sociedade. Não percebem isso, porque sua arrogância os cega. Mas é o que acontece. 18 Marco Aurélio Nogueira