Candidatos inventados são como ilusões óticas. Mostram
coisas que não vemos, que não existem ou estão distorcidas.
Criam mil sensações, derivadas da “astúcia” das imagens, e em
algum ponto da curva se desfazem.
Dirão os estrategistas que algo precisa ser feito para chamar
os cidadãos de volta para a política, para, em suma, compensar a
perda brutal de legitimidade dos políticos e da própria política
como tal. Parecem acreditar na improvisação e na força magné-
tica que teria uma celebridade, uma estrela oculta, uma lua nova
criada às pressas nas pranchetas dos marqueteiros. O pior é que,
com seus inventos, vão sugestionando os caciques partidários e
dando a eles a ilusão de que algo pode ser entronizado de dentro
para fora na política prática.
Oferecem, como facilitadora, a ideia de que é necessário encon-
trar o mais perfeito “antiLula”, ou o “antiBolsonaro”, demônios
que precisam ser excomungados. Querem que o “novo” seja um
elemento de polarização. Os mais radicais vibram com a perspec-
tiva de que o ex-presidente seja preso ou impedido de disputar as
eleições. Pintam-no como um “populista” irresponsável, mas não
conseguem vislumbrar como enfrentá-lo numa disputa eleitoral,
que é onde os políticos devem ser julgados. O mote é dado pela
perspectiva de se encontrar um quadro no qual um “nós” impre-
ciso seja erguido como um dique contra Lula. É uma simplifica-
ção grosseira, que só faz aumentar o prestígio dele.
O fator Lula, por sua vez, ajuda a que se forjem polarizações a
partir do outro lado da praça, que também tem seus artesãos e
seus bruxos de plantão. A ideia é criar um cenário em que Lula
ocuparia o espaço principal, ora impulsionando uma dinâmica
Lula contra “eles”, ora apresentando o ex-presidente como “vítima”
e o “único que pode salvar o país”. Torce-se para que as múltiplas
pequenas polarizações artificiais desaguem numa grande polari-
zação Lula x Bolsonaro, com a qual se imagina acomodar toda a
complexa sociedade brasileira. Os esquemas maniqueístas
simplórios tentam crescer mobilizando a seu favor a aparência
retórica do “radicalismo”.
É um quadro trágico, que ergue uma interrogação diante de 2018
e em nada ajuda a que se pense o país com olhos generosos. Ao se
afastar tanto assim da s condições de possibilidade de uma competi-
ção eleitoral que honre o nome da democracia, os políticos só fazem
aumentar o descrédito de que gozam na sociedade. Não percebem
isso, porque sua arrogância os cega. Mas é o que acontece.
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Marco Aurélio Nogueira