O imprevisível 2018 PD49 | Page 199

subversivas de Ouro Preto , onde plantaria a semente daquilo que poderíamos denominar por um comprometimento absoluto com a ideia do novo país que surgia ( o que o processo de redemocratização recuperaria ). No século 18 , esta cidade convivia com uma vida cultural em que se destacavam a música ( que ficaria conhecida por barroco mineiro ), executada nas orquestras das irmandades , organismos de leigos que ocupavam o espaço institucional da Igreja Católica na região das minas de ouro ; também a poesia , onde despontavam vultos como Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga , contribuía para forjar a identidade nacional nascente ; isso , para não nos referirmos à arquitetura e à escultura ou mesmo à pintura , com destaque para o maior artista do período colonial , Antônio Francisco Lisboa , o Aleijadinho . Na verdade , a religiosidade da cidade imprimia sua marca nos espaços de sociabilidade , à medida mesmo em que os acontecimentos religiosos periodizavam a vida social de Ouro Preto .
Assim , o trânsito de ideias fortalecia grupos com propostas de inovação e modernidade que se manifestavam na vida cotidiana . Os Inconfidentes , diga-se de passagem , participavam das irmandades e esse era o caso não só de Tiradentes , como ainda de Claudio Manoel da Costa e Antônio Gonzaga . Tudo se passava como se a cultura anunciasse o Brasil antes da edificação de um Estado nacional propriamente dito . Na Casa da Opera , fundada em 1770 e a primeira no Brasil a introduzir mulheres no elenco , reunia-se a sociedade local e , muitas vezes , os partidários do movimento independentista . Em outras palavras , a cultura saía na frente . Nesse sentido , todo um acúmulo de informações foi sendo organizado ao longo de décadas , a partir dos esforços dos estudantes brasileiros – mineiros , sobretudo – em estabelecimentos de ensino no exterior , como Coimbra e Montpellier . Ali , já se forjavam literatos , botânicos , matemáticos , mineralogistas , dicionaristas e químicos que se destacariam na passagem da Colônia para o Brasil independente . Ouro Preto é fruto de todo esse processo , que vai na realidade da tradição à modernidade .
No século 19 , a cidade viu nascer as Escolas de Farmácia ( 1839 ) 1 e de Minas ( 1876 ), cujas contribuições para o país foram consideráveis . Santos Dumont , Pandiá Calógeras , Getúlio Vargas , Carlos Chagas , entre outros , foram alunos dessa Escola de Minas , o que não é pouco .
1 A primeira do Brasil desvinculada da Faculdade de Medicina .
Ouro Preto : cidade patrimônio na democratização
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