Ouro Preto: cidade patrimônio
na democratização
Cleia Schiavo Weyrauch
A
Trechos de palestra proferida na Fundação Casa de Rui Barbosa,
quando do Evento Preservação – Restauração, coordenado por
Maria Luiza Salgado, da Escola Nacional de Belas Artes.
cidade é uma instituição eminentemente política e, por
decorrência disso, se apresenta como um bem público.
Outro não era, para os gregos, o sentido do termo pólis.
E ela é ainda um espaço de memória passível de disputas políti-
cas por vezes ásperas e contraditórias. Espaço de vida comuni-
tária, a cidade se move por meio de decisões tomadas no plano
individual e, também, coletivo, em suas continuidades e descon-
tinuidades históricas. A cidade é passado, presente e futuro – o
que força cada um de seus integrantes a fazer escolhas com
relação ao seu sentido mais profundo. Cidade é poder e desafio,
modernidade e expansão urbana.
Cidade é impulso humanístico, encontro entre pessoas e
culturas, o que a habilita como legado civilizatório. Mas o que a
identifica sobretudo talvez seja sua dimensão cultural, que é
capaz de revelar a identidade de uma comunidade de pensamento
e destino. Cidade, no fundo, é poder em ação, em todos os níveis
da vida humana. E ainda palco de lutas sociais.
Angelo Oswaldo, jornalista e ex-prefeito de Ouro Preto, afirma:
– A cidade é uma síntese histórica do Brasil.
Este texto tenta recuperar o dilema do patrimônio em Ouro
Preto, na década de 1980, quando a Fundação Pró-Memória, sob
a coordenação de Aloísio Magalhães, lançou uma nova política de
preservação vinculada ao processo de redemocratização em curso
no Brasil. Que impacto tal política provocou em Ouro Preto? Que
questões sociais influenciaram a interpretação desse discurso –
no caso a cidade de Ouro Preto na década de 1980? Enfim, trata-
se de pensar o conceito de cidade-patrimônio quando a institui-
ção cidade escapa a qualquer redução jurídica.
Os anos de ditadura foram cruéis com a discussão travada
outrora em torno dos rumos da brasilidade, afastando do debate de
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