O imprevisível 2018 PD49 | Page 191

Aos 150 anos de O capital Horacio Tarcus D os livros com que os reformadores sociais do século 19 buscaram redimir a classe operária, só O capital alcan- çou o caráter de obra consagrada, e inclusive sacralizada como a “Bíblia do proletariado”. Trata-se de um livro complexo, mais reconhecido (e venerado) que lido. Ler O capital, traduzi-lo, editá-lo, comprometia as mais diversas estratégias. A história de suas edições em língua espanhola é uma verda- deira saga transatlântica, atravessada por revoluções, guerras, ditaduras e exílios. E, não menos importante, por querelas sobre tais ou quais conceitos que nunca foram meramente «técnicas», mas que expunham concepções enfrentadas de como entender a luta política e a emancipação humana. Relata Francis Wheen, em seu livro La historia de El capital, de Karl Marx, que, em fevereiro de 1867, pouco antes de enviar sua obra magna à imprensa, “Marx insistiu junto a Friedrich Engels para que lesse a obra mestra desconhecida, de Honoré de Balzac. Segundo lhe disse, a história era em si uma pequena obra ‘repleta da mais deliciosa ironía’”. 1 O relato fala também de Frenhofer, um grande pintor que dedica dez anos de sua vida a trabalhar, sem descanso, em um retrato que devia revolucionar a arte ao proporcionar «a mais completa representação da realidade». Porém, por tentar aperfei- 1 Carta de Marx a Engels, 25/02/1867 em: Correspondência Marx-Engels, mega, V. III, p. 376. 189