O imprevisível 2018 PD49 | Page 171

capacidade de liderança, que cimentou seu poder na máquina partidária e no que seus apoiadores próximos chamam de capaci- dade de manejar os tempos da política; isto é, sua frieza, como característica natural e cultivada. Esta capacidade de permanecer imóvel tem alimentado o discurso e o contingente dos separatistas por anos, e Rajoy conti- nua fingindo que não os vê e que nem os ouve e, ademais, sempre que lhe ocorre algum problema se esconde atrás de qualquer proteção, de juízes à polícia, da Monarquia ao Tribunal Constitu- cional. Além disso, nunca lhe ocorreu deixar uma proposta posi- tiva aos cidadãos da Catalunha, nem que fosse uma mensagem de afeto. Em apoio a Rajoy juntou-se a nata do socialismo felipista [ala de Felipe Gonzalez], os velhos e a alguns jovens que parecem tão incapazes quanto os veteranos de entender como a Espanha mudou de 1978 até hoje. Apesar de tudo isso, os motivos estruturais é que são real- mente graves. O mais sério deles não é que a maioria dos espa- nhóis tenha uma concepção castellanista da Espanha, sendo esta uma questão relevante, mas que essa posição está cada vez mais longe da realidade que existe em grande parte da Espanha periférica; entendendo como tal, fundamentalmente, essas regiões – precisamente as mais dinâmicas – que possuem sua própria língua, como a Catalunha e o País Basco, e também, embora com diferentes intensidades, a Navarra, a Galiza, as Ilhas Baleares e o País Valenciano. Esta concepção unitária reativa em oposição a uma visão plurinacional, federalista ou diretamente separatista chocam-se com virulência em momentos de confronto como o que experimen- tamos desde as últimas semanas. Há que ler a imprensa estran- geira – europeia e norte-americana, especialmente –, mais distan- ciada por definição, para entender com que facilidade esse antagonismo é percebido lá fora. No entanto, independentemente do que faz a Catalunha, o governo Rajoy e a mídia sempre insistem que a maioria dos cida- dãos da Catalunha não apoia o desejo dos independentistas. Dito assim, com certeza, trata-se de uma verdade que mais de metade da população daquela nação não quer se tornar independente da Espanha. No entanto, essa convicção, que pode ser reconfortante para alguns, esconde uma realidade na qual não se insiste o sufi- ciente: se olharmos para os grupos etários, entre os mais jovens, a correlação de forças entre partidários da unidade e partidários O mal denominado problema catalão 169