capacidade de liderança, que cimentou seu poder na máquina
partidária e no que seus apoiadores próximos chamam de capaci-
dade de manejar os tempos da política; isto é, sua frieza, como
característica natural e cultivada.
Esta capacidade de permanecer imóvel tem alimentado o
discurso e o contingente dos separatistas por anos, e Rajoy conti-
nua fingindo que não os vê e que nem os ouve e, ademais, sempre
que lhe ocorre algum problema se esconde atrás de qualquer
proteção, de juízes à polícia, da Monarquia ao Tribunal Constitu-
cional. Além disso, nunca lhe ocorreu deixar uma proposta posi-
tiva aos cidadãos da Catalunha, nem que fosse uma mensagem de
afeto. Em apoio a Rajoy juntou-se a nata do socialismo felipista
[ala de Felipe Gonzalez], os velhos e a alguns jovens que parecem
tão incapazes quanto os veteranos de entender como a Espanha
mudou de 1978 até hoje.
Apesar de tudo isso, os motivos estruturais é que são real-
mente graves. O mais sério deles não é que a maioria dos espa-
nhóis tenha uma concepção castellanista da Espanha, sendo
esta uma questão relevante, mas que essa posição está cada vez
mais longe da realidade que existe em grande parte da Espanha
periférica; entendendo como tal, fundamentalmente, essas
regiões – precisamente as mais dinâmicas – que possuem sua
própria língua, como a Catalunha e o País Basco, e também,
embora com diferentes intensidades, a Navarra, a Galiza, as
Ilhas Baleares e o País Valenciano.
Esta concepção unitária reativa em oposição a uma visão
plurinacional, federalista ou diretamente separatista chocam-se
com virulência em momentos de confronto como o que experimen-
tamos desde as últimas semanas. Há que ler a imprensa estran-
geira – europeia e norte-americana, especialmente –, mais distan-
ciada por definição, para entender com que facilidade esse
antagonismo é percebido lá fora.
No entanto, independentemente do que faz a Catalunha, o
governo Rajoy e a mídia sempre insistem que a maioria dos cida-
dãos da Catalunha não apoia o desejo dos independentistas. Dito
assim, com certeza, trata-se de uma verdade que mais de metade
da população daquela nação não quer se tornar independente da
Espanha. No entanto, essa convicção, que pode ser reconfortante
para alguns, esconde uma realidade na qual não se insiste o sufi-
ciente: se olharmos para os grupos etários, entre os mais jovens,
a correlação de forças entre partidários da unidade e partidários
O mal denominado problema catalão
169