No entanto, o desafio do movimento independentista diante do
quadro legal do Estado, com base no resultado supostamente
incontestável da consulta em 01 de outubro, ultrapassou os limi-
tes do razoável. Os dois grandes bancos catalães e quase todas as
grandes empresas listadas na Bolsa de Valores de Madri retira-
ram suas sedes da Catalunha e algumas ameaçaram também
tirar a produção do território. Mais de mil empresas menores fize-
ram o mesmo, considerando duas coisas: a importância do
mercado espanhol para seus interesses e, especialmente, o pânico
de estar fora da jurisdição do Banco Central Europeu, o que os
colocaria em um espaço em que não há oxigênio financeiro e não
há vida econômica viável.
Paralelamente a este processo econômico, comercial e finan-
ceiro, houve um fenômeno político, talvez, imprevisto pelos sepa-
ratistas, que não deveria surpreendê-los: a aparição de um pode-
roso nacionalismo espanhol em toda a península, acompanhada
pela presença violenta da extrema direita nas ruas. Em toda a
Espanha, a profusão de bandeiras constitucionais penduradas
nas varandas daqueles que querem mostrar sua oposição aos
catalães tornou-se particularmente visível. Além disso, o espa-
nholismo existente na Catalunha também tomou as ruas: em
apenas algumas semanas, convocados pela Sociedade Civil
Catalã, uma entidade de língua espanhola, milhares de pessoas
passaram pelas ruas centrais de Barcelona em meio a um mar de
bandeiras espanholas, refutando um dos mitos centrais do movi-
mento da independência: que eles sempre falam em nome de todo
o povo da Catalunha.
A tensão política entre o governo de Madri e o de Barcelona
atingiu seu pico quando, depois de um jogo de “gato e rato” por
meio de escritos trocados por fax ou outros meios, quando o presi-
dente Carles Puigdemont deu outro passo em direção ao abismo
fazendo algo parecido com uma espécie de proclamação da Repú-
blica da Catalunha. Rajoy, pela primeira vez em sua vida, reagiu
rapidamente e pediu autorização ao Senado para aplicar o peri-
goso e ambíguo artigo 155 da Constituição para abortar a ameaça
da separação catalã.
O golpe no governo autônomo dos catalães, no entanto,
surpreendeu com a adição do anúncio do presidente espanhol de
que haverá eleições regionais na Catalunha em 21 de dezembro.
Ele conseguiu surpreender muita gente, especialmente os separa-
tistas, em função da exiguidade do tempo para eles tomarem deci-
O mal denominado problema catalão
167