O imprevisível 2018 PD49 | Page 169

No entanto, o desafio do movimento independentista diante do quadro legal do Estado, com base no resultado supostamente incontestável da consulta em 01 de outubro, ultrapassou os limi- tes do razoável. Os dois grandes bancos catalães e quase todas as grandes empresas listadas na Bolsa de Valores de Madri retira- ram suas sedes da Catalunha e algumas ameaçaram também tirar a produção do território. Mais de mil empresas menores fize- ram o mesmo, considerando duas coisas: a importância do mercado espanhol para seus interesses e, especialmente, o pânico de estar fora da jurisdição do Banco Central Europeu, o que os colocaria em um espaço em que não há oxigênio financeiro e não há vida econômica viável. Paralelamente a este processo econômico, comercial e finan- ceiro, houve um fenômeno político, talvez, imprevisto pelos sepa- ratistas, que não deveria surpreendê-los: a aparição de um pode- roso nacionalismo espanhol em toda a península, acompanhada pela presença violenta da extrema direita nas ruas. Em toda a Espanha, a profusão de bandeiras constitucionais penduradas nas varandas daqueles que querem mostrar sua oposição aos catalães tornou-se particularmente visível. Além disso, o espa- nholismo existente na Catalunha também tomou as ruas: em apenas algumas semanas, convocados pela Sociedade Civil Catalã, uma entidade de língua espanhola, milhares de pessoas passaram pelas ruas centrais de Barcelona em meio a um mar de bandeiras espanholas, refutando um dos mitos centrais do movi- mento da independência: que eles sempre falam em nome de todo o povo da Catalunha. A tensão política entre o governo de Madri e o de Barcelona atingiu seu pico quando, depois de um jogo de “gato e rato” por meio de escritos trocados por fax ou outros meios, quando o presi- dente Carles Puigdemont deu outro passo em direção ao abismo fazendo algo parecido com uma espécie de proclamação da Repú- blica da Catalunha. Rajoy, pela primeira vez em sua vida, reagiu rapidamente e pediu autorização ao Senado para aplicar o peri- goso e ambíguo artigo 155 da Constituição para abortar a ameaça da separação catalã. O golpe no governo autônomo dos catalães, no entanto, surpreendeu com a adição do anúncio do presidente espanhol de que haverá eleições regionais na Catalunha em 21 de dezembro. Ele conseguiu surpreender muita gente, especialmente os separa- tistas, em função da exiguidade do tempo para eles tomarem deci- O mal denominado problema catalão 167