O imprevisível 2018 PD49 | Page 168

por anos que o assunto “caia de podre” e que os soberanistas catalães não consigam manter a tensão popular sobre a secessão. O governo separatista de Junts pel Si e o CUP se dedicaram a fantasiar sobre um processo no qual, uma vez concluído, todos seriam beneficiados, sem nenhum custo. Para isso eles têm se esforçado incansavelmente para transformar o assunto em um problema internacional. O governo irresponsável de Rajoy e do PP nunca pareceu preo- cupado de que o apoio à soberania catalã tenha aumentado em comparação com o que se viu em 2010, nem que a relação entre unionistas e independentistas, com o passar do tempo, tenha se inclinado cada vez mais em favor destes últimos. Em Madrid, viveram convencidos de que é mais fácil manifestar-se festiva- mente pela independência do que votar por ela – e se este for o caso, o que eles julgam impossível – então o melhor é não fazer nada. Em Barcelona, por ​​ outro lado, além de não se preocuparem com a polarização óbvia e crescente da sociedade catalã, os sepa- ratistas não veem ou ouvem os sinais que recebem do exterior, de que seu objetivo não pode ser abordado em violação da lei espa- nhola. A resposta da Comissão de Veneza, órgão consultivo do Conselho da Europa que se pronunciou sobre diferentes proces- sos de referendo, foi conclusiva: qualquer referendo deve ser acor- dado e realizado dentro da legalidade do Estado. Pois bem, durante as últimas semanas, a situação só se complicou. O Parlamento da Catalunha, fortemente controlado pelos separatistas, começou a apertar a situação ao máximo e o Estado respondeu com força. Diante de um referendo descafei- nado, convocado para 01 de outubro, com ausência de regras mínimas que deveriam homologar uma consulta confiável, forças policiais e da Guarda Civil, sob as ordens do governo central, reprimiram com extrema dureza, imprópria para uma democra- cia madura, o que não era senão um dia de mobilização pacífica, sem efeitos legais. Houve centenas de feridos e machucados devido às brutais ações dos policiais contra as pessoas – jovens, adultos e idosos –, que não fizeram nada além do que tentar depositar seus votos nas urnas improvisadas pelo governo da Generalitat Catalã, e foram tema central dos meios de comunicação mundiais, diante do cenário de violência que se instalou. Com isso, o descré- dito do governo Rajoy atingiu seu ponto mais agudo e a simpatia da opinião pública internacional se deslocou para o movimento de independência catalão. 166 Joan Del Alcazar