O imprevisível 2018 PD49 | Page 167

Algo parecido está ocorrendo na Espanha, um território em que a unidade nacional foi proclamada sacrossanta pelo PP de Rajoy e que agora está levando o PSOE a deixar de lado os graves proble- mas sociais que o país sofre que agora desapareceram do debate político, pois todos se concentram na chamada questão catalã. Como chegamos a este ponto de polarização máxima na socie- dade catalã e espanhola, ao ponto de que metade do governo cata- lão está preso e a outra metade na Bélgica? Durante muito tempo houve muita conversa, e com razão, de que haveria um “choque de trens”, e a imagem é boa; no entanto, acredi- tamos que é mais preciso e expressivo usar choque de nacionalis- mos. Ensimesmados, míopes; ou seja, entregues às suas próprias ideias, a suas fantasias e apartados do mundo que as rodeia. A anulação pelo Tribunal Constitucional do Estatuto, apro- vada pelos eleitores catalães, em junho de 2010, foi uma bomba política cujos efeitos duraram sete anos e ainda durará muito mais. O Partido Popular, representante do nacionalismo espanhol mais rançoso, usou seu confronto com o nacionalismo catalão para obter votos no resto da Espanha e explorou esse filão de maneira tão perigosa quanto irresponsável. Os nacionalistas moderados catalães, a maioria, que não haviam questionado até então o quadro legal definido pelo Estatuto, e os radicais, clara- mente minoritários, decidiram algo semelhante: explorar em seu benefício eleitoral (interno, na Catalunha) a grosseria, as ofensas e a inação do governo de Rajoy e seus seguidores. Além disso, ambos começaram a competir entre si para ver quem era mais autêntico e consistente em seu catalanismo político. Nessa corrida para onde não se sabia exatamente, apareceu o direito de decidir e o referendo vinculante como a chave que, sem dúvida, abriria todas as portas para a independência da Catalu- nha. Primeiro se falava da inquestionável positividade de se demandar a cidadania, mas – com a cerrada oposição do governo central – pouco a pouco, essa opção foi oferecida como a forma que permitiria a certificação da separação catalã. Desde então estabeleceu-se uma dupla convicção: alguns afirmaram que o resultado foi cantado e a Catalunha seria separada da Espanha, enquanto outros disseram que não haveria tal consulta e que nunca haverá uma ruptura da unidade espanhola. Durante os últimos meses, os chefes de ambos os nacionalis- mos se fixaram em suas respectivas posições. Rajoy tem esperado O mal denominado problema catalão 165