Algo parecido está ocorrendo na Espanha, um território em que
a unidade nacional foi proclamada sacrossanta pelo PP de Rajoy e
que agora está levando o PSOE a deixar de lado os graves proble-
mas sociais que o país sofre que agora desapareceram do debate
político, pois todos se concentram na chamada questão catalã.
Como chegamos a este ponto de polarização máxima na socie-
dade catalã e espanhola, ao ponto de que metade do governo cata-
lão está preso e a outra metade na Bélgica?
Durante muito tempo houve muita conversa, e com razão, de que
haveria um “choque de trens”, e a imagem é boa; no entanto, acredi-
tamos que é mais preciso e expressivo usar choque de nacionalis-
mos. Ensimesmados, míopes; ou seja, entregues às suas próprias
ideias, a suas fantasias e apartados do mundo que as rodeia.
A anulação pelo Tribunal Constitucional do Estatuto, apro-
vada pelos eleitores catalães, em junho de 2010, foi uma bomba
política cujos efeitos duraram sete anos e ainda durará muito
mais. O Partido Popular, representante do nacionalismo espanhol
mais rançoso, usou seu confronto com o nacionalismo catalão
para obter votos no resto da Espanha e explorou esse filão de
maneira tão perigosa quanto irresponsável. Os nacionalistas
moderados catalães, a maioria, que não haviam questionado até
então o quadro legal definido pelo Estatuto, e os radicais, clara-
mente minoritários, decidiram algo semelhante: explorar em seu
benefício eleitoral (interno, na Catalunha) a grosseria, as ofensas
e a inação do governo de Rajoy e seus seguidores. Além disso,
ambos começaram a competir entre si para ver quem era mais
autêntico e consistente em seu catalanismo político.
Nessa corrida para onde não se sabia exatamente, apareceu o
direito de decidir e o referendo vinculante como a chave que, sem
dúvida, abriria todas as portas para a independência da Catalu-
nha. Primeiro se falava da inquestionável positividade de se
demandar a cidadania, mas – com a cerrada oposição do governo
central – pouco a pouco, essa opção foi oferecida como a forma
que permitiria a certificação da separação catalã. Desde então
estabeleceu-se uma dupla convicção: alguns afirmaram que o
resultado foi cantado e a Catalunha seria separada da Espanha,
enquanto outros disseram que não haveria tal consulta e que
nunca haverá uma ruptura da unidade espanhola.
Durante os últimos meses, os chefes de ambos os nacionalis-
mos se fixaram em suas respectivas posições. Rajoy tem esperado
O mal denominado problema catalão
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