O imprevisível 2018 PD49 | Page 165

O mal denominado problema catalão : o choque de dois nacionalismos míopes
Joan Del Alcazar

O

complicado problema territorial é muito antigo na Espanha . O historiador Manuel Tuñón de Lara escreveu , há muitos anos , em um livro sobre a Segunda República Espanhola ( 1931-1939 ) que , no seu advento , o novo regime sofreu quatro sérios problemas : o Exército ( superdimensionado e reacionário ), a propriedade da terra ( dramaticamente mal distribuída no interior da Espanha ), a Igreja Católica ( ultramontana e com enorme influência ideológica e política ) e os nacionalismos periféricos . Todos eles , exceto o último , o dos nacionalismos , principalmente no País Basco e na Catalunha , foram mais ou menos resolvidos após a recuperação da democracia na Espanha após a morte do ditador Franco em 1975 e , acima de tudo , após a aprovação da nova Constituição em 1978 e da tentativa de golpe militar de 1981 .
Quatro décadas se passaram desde então e o problema não só continua existindo , como nos últimos meses tornou-se a principal crise de Estado dos últimos quarenta anos e , ao que tudo indica , parece longe de uma solução . Por muito tempo , esse problema foi se arrastando e mesmo hoje ainda não se vislumbra uma luz no final do túnel . Em 1978 , no contexto do debate sobre a nova Carta Magna , os constituintes criaram o que chamaram de Estado das Autonomias , que se resume numa tentativa de diluir a singularidade basca e catalã em uma nova organização política e administrativa em tintas duvidosamente federalistas . Este novo Estado foi concebido – e descrito de uma forma castiça – como “ um café para todos ”. Foi a fórmula encontrada para evitar a aceitação da singularidade basca e catalã e , ao mesmo tempo , afastar outras possíveis exigências da Galícia ou do País Valenciano , por exemplo . Para se adequar à autonomia de uma parte das regiões que o exigiram , sua concessão foi generalizada mesmo para aquelas que nunca a reivindicaram .
A partir dessa intenção se obteve um texto que foi envelhecendo pouco a pouco . Passaram-se 40 anos e aquele acordo está obsoleto para uma parte dos espanhóis ( a maioria , é claro , na Catalunha e no País Basco , e em menor medida em outras regiões ), enquanto que para outra boa parte , certamente maior ( Espanha
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