O imprevisível 2018 PD49 | Page 164

Quem é o perigo? Não é apenas a entrada de mais um penetra no seleto “clube” das potências nucleares que preocupa o painel de es­pecialistas responsável por calibrar o “relógio do juízo final”. No que diz respeito estritamente à Coreia do Norte, que fez seu primeiro teste com um artefato atômico em 2006, pesa­ram as últimas explosões experimentais – antes mesmo da executada no início de setembro, quase certamente com uma bomba de hidrogênio, o mesmo tipo de artefato que Kim Jong-un alegou ter testado em janeiro de 2016. Paralelamen­te, e já com o “horário” adiantado rumo ao “fim do mundo”, Pyongyang demonstrou repetidas vezes a capacidade de lan­çar mísseis até o território continental dos EUA. No cálculo dos riscos para a sobrevivência do planeta entram também as demais potências nucleares não ofi­ciais: Índia, Paquis- tão e Israel. Há considerações também sobre as mudanças climá- ticas e outros impactos ambien­tais. Mas, sobretudo, há o “fator Trump”. A conduta irascível e imprevisível do novo presidente americano, titular da ma­leta com os códigos que permitem dispa- rar o arsenal atô­ mico mais poderoso do mundo, emerge como incógnita numa equação por si só de difícil balanceamento. Também do lado oposto, multiplicam-se os sinais de incerteza captados em Moscou desde 2014, quando VIadi­ mir Putin surpreendeu o mundo com a fulminante con­ quista militar da Crimeia, península estratégica para a Rússia, mas que foi incor- porada por Stalin à então repú­blica soviética da Ucrânia, no pós- Segunda Guerra Mun­ dial. Desfeita a URSS, permaneceu ali a sede da poderosa Frota do Mar Negro, essencial para a presença marítima global da ex-superpotência. O movimento de Putin, formado na escola da KGB so­v iética, colocou em guarda a atual linha de frente da Otan, formada pela Polônia e pelas ex-repúblicas soviéticas do Báltico (Lituânia, Letô- nia e Estônia). E o alerta se reforçou nos últimos meses, quando milhares de soldados, apoiados por tanques, artilharia, aviões e helicópteros, realizaram duas semanas de exercícios militares na fron­teira oeste da Rússia. Com as manobras Zapad (“ocidente”, em russo), o Krem­ lin resgatou inclusive o nome de uma operação rotineira nas décadas da Guerra Fria. E não escapou à apreciação da Otan que a opera- ção tenha ganhado dimensões inéditas no século 21 justamente no ano do centenário da revolução que deu origem à União Soviética. 162 Silvio Queiroz