Quem é o perigo?
Não é apenas a entrada de mais um penetra no seleto “clube”
das potências nucleares que preocupa o painel de especialistas
responsável por calibrar o “relógio do juízo final”. No que diz
respeito estritamente à Coreia do Norte, que fez seu primeiro teste
com um artefato atômico em 2006, pesaram as últimas explosões
experimentais – antes mesmo da executada no início de setembro,
quase certamente com uma bomba de hidrogênio, o mesmo tipo
de artefato que Kim Jong-un alegou ter testado em janeiro de
2016. Paralelamente, e já com o “horário” adiantado rumo ao “fim
do mundo”, Pyongyang demonstrou repetidas vezes a capacidade
de lançar mísseis até o território continental dos EUA.
No cálculo dos riscos para a sobrevivência do planeta entram
também as demais potências nucleares não oficiais: Índia, Paquis-
tão e Israel. Há considerações também sobre as mudanças climá-
ticas e outros impactos ambientais. Mas, sobretudo, há o “fator
Trump”. A conduta irascível e imprevisível do novo presidente
americano, titular da maleta com os códigos que permitem dispa-
rar o arsenal atô
mico mais poderoso do mundo, emerge como
incógnita numa equação por si só de difícil balanceamento.
Também do lado oposto, multiplicam-se os sinais de incerteza
captados em Moscou desde 2014, quando VIadi
mir Putin
surpreendeu o mundo com a fulminante con
quista militar da
Crimeia, península estratégica para a Rússia, mas que foi incor-
porada por Stalin à então república soviética da Ucrânia, no pós-
Segunda Guerra Mun
dial. Desfeita a URSS, permaneceu ali a
sede da poderosa Frota do Mar Negro, essencial para a presença
marítima global da ex-superpotência.
O movimento de Putin, formado na escola da KGB sov iética,
colocou em guarda a atual linha de frente da Otan, formada pela
Polônia e pelas ex-repúblicas soviéticas do Báltico (Lituânia, Letô-
nia e Estônia). E o alerta se reforçou nos últimos meses, quando
milhares de soldados, apoiados por tanques, artilharia, aviões e
helicópteros, realizaram duas semanas de exercícios militares na
fronteira oeste da Rússia.
Com as manobras Zapad (“ocidente”, em russo), o Krem
lin
resgatou inclusive o nome de uma operação rotineira nas décadas
da Guerra Fria. E não escapou à apreciação da Otan que a opera-
ção tenha ganhado dimensões inéditas no século 21 justamente no
ano do centenário da revolução que deu origem à União Soviética.
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Silvio Queiroz