Não há , portanto , outro caminho para a Verdade a não ser o da interioridade e do aprofundamento da nossa dimensão subjetiva . Isso porque a individualidade autêntica supõe a vivência profunda da culpa : sem esse sentimento , jamais nos situaremos , de forma verdadeira , diante da redenção e , consequentemente , da mediação de Cristo .
A subjetividade de Kierkegaard não é tributária da atmosfera romântica que envolvia sua época . Seu profundo significado a-histórico tem mais a ver com uma concepção de existência que torna todos os homens contemporâneos de Cristo , do que com as características do Romantismo então em voga no continente europeu .
A redenção , ainda quando observada como fato histórico , possui uma dimensão que a transforma numa referência intemporal para se vivenciar a Fé . O cristão é aquele que se sente continuamente na presença de Deus pela mediação do Cristo , e a religião só tem sentido se for vivida como comunhão com o sofrimento da cruz .
Por tudo isso é que este filósofo critica o Cristianismo da sua época , principalmente o Protestantismo dinamarquês , imiscuído , segundo ele , de conceituação filosófica que esconde a brutalidade do fato religioso , minimiza a distância entre Deus e o homem e sufoca o sentimento de angústia que acompanha a Fé .
Esta angústia , no entender de Kierkegaard , estaria ilustrada no episódio do sacrifício de Abraão . Este relato bíblico indica a solidão e o abandono do indivíduo voltado unicamente para a vivência da fé . O que Deus pede a Abraão – que ele sacrifique o único filho para demonstrar sua fé – é absurdo e desumano segundo a ética dos homens .
Abraão não está na situação do herói trágico que deve escolher entre valores subjetivos ( individuais e familiares ) e valores objetivos ( a cidade , a comunidade ), como no caso da tragédia grega . Nada está em jogo , a não ser ele mesmo e a sua fé . Deus não está testando a sabedoria de Abraão , da mesma forma como os deuses testavam a sabedoria de Édipo .
Por tudo o que decorre da sua afirmação , a Fé não pode ser elucidada pelos conceitos . Eles não dariam conta das tensões e contradições que marcam a vida individual . Existir é existir diante de Deus , e a impossibilidade de compreensão da infinitude divina faz com que a consciência vacile como se estivesse diante de um abismo .
154 Dimas Macedo
Não há, portanto, outro caminho para a Verdade a não ser o
da interioridade e do aprofundamento da nossa dimensão subje-
tiva. Isso porque a individualidade autêntica supõe a vivência
profunda da culpa: sem esse sentimento, jamais nos situaremos,
de forma verdadeira, diante da redenção e, consequentemente, da
mediação de Cristo.
A subjetividade de Kierkegaard não é tributária da atmosfera
romântica que envolvia sua época. Seu profundo significado a-his-
tórico tem mais a ver com uma concepção de existência que torna
todos os homens contemporâneos de Cristo, do que com as carac-
terísticas do Romantismo então em voga no continente europeu.
A redenção, ainda quando observada como fato histórico,
possui uma dimensão que a transforma numa referência intem-
poral para se vivenciar a Fé. O cristão é aquele que se sente
continuamente na presença de Deus pela mediação do Cristo, e
a religião só tem sentido se for vivida como comunhão com o
sofrimento da cruz.
Por tudo isso é que este filósofo critica o Cristianismo da sua
época, principalmente o Protestantismo dinamarquês, imiscuído,
segundo ele, de conceituação filosófica que esconde a brutalidade
do fato religioso, minimiza a distância entre Deus e o homem e
sufoca o sentimento de angústia que acompanha a Fé.
Esta angústia, no entender de Kierkegaard, estaria ilustrada
no episódio do sacrifício de Abraão. Este relato bíblico indica a
solidão e o abandono do indivíduo voltado unicamente para a
vivência da fé. O que Deus pede a Abraão – que ele sacrifique o
único filho para demonstrar sua fé – é absurdo e desumano
segundo a ética dos homens.
Abraão não está na situação do herói trágico que deve escolher
entre valores subjetivos (individuais e familiares) e valores objeti-
vos (a cidade, a comunidade), como no caso da tragédia grega.
Nada está em jogo, a não ser ele mesmo e a sua fé. Deus não está
testando a sabedoria de Abraão, da mesma forma como os deuses
testavam a sabedoria de Édipo.
Por tudo o que decorre da sua afirmação, a Fé não pode ser
elucidada pelos conceitos. Eles não dariam conta das tensões e
contradições que marcam a vida individual. Existir é existir
diante de Deus, e a impossibilidade de compreensão da infinitude
divina faz com que a consci� ���XH�X�[H��[��H\�]�\��HX[�B�H[HX�\�[˂�MM�[X\�XX�Y