O imprevisível 2018 PD49 | Page 150

A época histórica. Fim da história? Alfredo Maciel da Silveira D esde os fins do século XX, generalizou-se o senso comum de que o capitalismo “venceu” a disputa com o socialismo. Pensadores à direita do espectro político então propugna- ram a tese do “fim da história”. Já pelo lado da esquerda grassou, e ainda grassa, o desapontamento com o socialismo, que “não deu certo”, que “não funciona”. Os males do capitalismo todavia se reproduzem agora com força avassaladora em meio à acelerada reestruturação produtiva na nova escala da globalização. E o reconhecimento destes males – por exem- plo suas crises cíclicas, concentração da riqueza, critério privado de alocação dos recursos, exclusão social, anarquia da produção, populações em fuga da fome e das guerras, desequilíbrios ambien- tais – está longe de ser exclusividade de um pensamento crítico marxista. O mesmo se pode dizer quanto às propostas de políticas mitigadoras daqueles males, apontando até para reformas tenden- cialmente anticapitalistas, formuladas por insuspeitas instituições e líderes empresariais, ícones do capitalismo contemporâneo. No campo das ideias e da cultura, o capitalismo está exube- rantemente hegemônico na sociedade. Isto lhe permite, ao mesmo tempo, apresentar como suas as conquistas democráticas – direi- tos civis, políticos e econômicos – que foram, na verdade, resul- tado das lutas populares, enquanto degrada e destrói estas mesmas conquistas. Mesmo diante das evidências de um capitalismo maduro que já mostra as condições de sua superação, seus reiterados males são ideologizados como “um mal necessário”, como algo “inevitá- vel”, como “o preço a pagar”. E a visão liberal atomista e progressista dos primórdios do século 18, então vendo a sociedade como o somatório dos indiví- duos produtores coordenados pela “mão invisível” do mercado, é agora radicalizada pela inculcação ideológica, atávica e fora de época, do individualismo mais exacerbado, a destruir os valores da solidariedade, da ação coletiva, da prevalência do público sobre o privado. 148