O imprevisível 2018 PD49 | Page 131

elaborada por Gramsci. Para demonstrá-lo, o autor marca a complementaridade entre guerra de movimento e guerra de posi- ção. Isso significa afirmar que a hegemonia não se comporta enquanto detecção de um novo momento histórico, no qual a constituição da política opera a partir dos consensos. Em sua análise, coerção e consenso são compreendidos por Gramsci a partir de um nexo indissociável, que se encontra intimamente relacionado com a compreensão acerca do Estado e da sociedade civil, de modo que a dimensão consensual é própria à sociedade, enquanto o momento coercitivo se coloca no âmbito estatal. Nesse sentido, a hegemonia, ao demonstrar os vínculos necessá- rios entre guerra de movimento e guerra de posição, bem como entre Estado e sociedade civil, se torna uma fórmula que reforça a revolução permanente enquanto horizonte de expectativa gramsciano, uma vez que o eixo do pensamento Gramsci figura, nessa leitura, na tomada do Estado. Diante disso, é preciso pensar uma interpretação em torno da hegemonia gramscina que permita perceber a vitalidade e a hete- rodoxia dos Quaderni del Carcere, demonstrando como tal catego- ria ultrapassa em diversos sentidos os limites da tradição marxista, de modo que Gramsci possa aparecer enquanto um pensador fundamental à história e política contemporâneas. Para tanto, é forçoso apontar que a discussão relativa à hegemonia não é ontológica, tampouco um momento de uma teoria da revolução. Isso ocorre porque as notas carcerárias se encontram fundamen- tadas por um diagnóstico histórico que fixa uma transformação morfológica da história e da política na transição do século 19 para o 20. Nessa transformação, as relações entre Estado e socie- dade civil, marcadas pelo advento da modernidade, se alteram decisivamente, gerando mudanças correspondentes nas formas políticas e de transformação histórica. Nessa nova formação política e histórica, as relações entre Estado e sociedade civil se alteram decisivamente. Nas sociedades de caráter Oriental, o Estado é mais forte e a sociedade civil é gelatinosa, de modo que é constantemente invadida pela esfera estatal, ao passo em que as de caráter Ocidental são marcadas pelo fortalecimento da sociedade em relação ao Estado. Isso implica que na modernidade Ocidental, as fórmulas revolucioná- rias, cujos eixos giram em torno do assalto ao Estado, se tornam anacrônicas, de modo que o centro das relações de forças próprias à política são deslocadas para a sociedade civil. A hegemonia enquanto consenso e conflito 129