O imprevisível 2018 PD49 | Page 125

Por outro lado, a própria jornada semanal e fixa de trabalho vem perdendo relevância na organização da produção contemporâ- nea. O trabalho remoto, a flexibilidade das etapas produtivas, e os sistemas inteligentes de gestão permitem que os trabalhadores organizem as suas atividades com relativa independência, no tempo e no espaço. A contrapartida a esta liberdade é o seu oposto, a indefinição da fronteira entre trabalho e tempo livre, o trabalho ocupando a vida das pessoas, todas as horas do dia e, até, do sono. No fundamental, a flexibilidade e as múltiplas formas de orga- nização do trabalho provocadas pela nova revolução tecnológica permitem a configuração de diferentes equações no tempo de trabalho-tempo livre (e mesmo a quebra desta dicotomia). No limite, inclui as escolhas individuais, cada trabalhador definindo o seu plano de vida com a distribuição dos tempos de trabalho e liber- dade, entre a jornada semanal, a distribuição anual e, principal- mente, ao longo dos anos de expectativa de vida. Toda grande transformação desta envergadura, contudo, não se dá sem grandes custos sociais e sem uma profunda desorganização das estruturas sociais, com impacto desigual na sociedade. O que depende, em última instância, das condições socioeconômicas de cada territó- rio, da sua capacidade de absorver os impactos e das escolhas polí- ticas e dos instrumentos para lidar com as transformações. O Brasil, em particular, não está absolutamente preparado para os impactos desta nova onda tecnológica. A recente reforma trabalhista foi um primeiro passo na preparação do país para o futuro, embora ainda limitada à definição de regras consistentes com as novas características do mercado de trabalho. Para acom- panhar as transformações e aproveitar os seus impactos positi- vos, os governos brasileiros deverão promover uma ambiciosa estratégia científica e tecnológica e, principalmente, de desenvol- vimento das capacidades humanas (educação, qualificação, e formação em larga escala com alta qualidade). Mesmo assim, durante algum tempo, o Brasil terá que prote- ger uma geração de analfabetos funcionais despreparada para a velocidade e a intensidade dos impactos da revolução tecnológica nos processos produtivos e na organização do trabalho. O Brasil só não pode ignorar e evitar esta fantástica onda tecnológica. Não é desejável nem possível. Trabalho e liberdade na nova revolução tecnológica 123