Por outro lado, a própria jornada semanal e fixa de trabalho
vem perdendo relevância na organização da produção contemporâ-
nea. O trabalho remoto, a flexibilidade das etapas produtivas, e os
sistemas inteligentes de gestão permitem que os trabalhadores
organizem as suas atividades com relativa independência, no
tempo e no espaço. A contrapartida a esta liberdade é o seu oposto,
a indefinição da fronteira entre trabalho e tempo livre, o trabalho
ocupando a vida das pessoas, todas as horas do dia e, até, do sono.
No fundamental, a flexibilidade e as múltiplas formas de orga-
nização do trabalho provocadas pela nova revolução tecnológica
permitem a configuração de diferentes equações no tempo de
trabalho-tempo livre (e mesmo a quebra desta dicotomia). No limite,
inclui as escolhas individuais, cada trabalhador definindo o seu
plano de vida com a distribuição dos tempos de trabalho e liber-
dade, entre a jornada semanal, a distribuição anual e, principal-
mente, ao longo dos anos de expectativa de vida. Toda grande
transformação desta envergadura, contudo, não se dá sem grandes
custos sociais e sem uma profunda desorganização das estruturas
sociais, com impacto desigual na sociedade. O que depende, em
última instância, das condições socioeconômicas de cada territó-
rio, da sua capacidade de absorver os impactos e das escolhas polí-
ticas e dos instrumentos para lidar com as transformações.
O Brasil, em particular, não está absolutamente preparado
para os impactos desta nova onda tecnológica. A recente reforma
trabalhista foi um primeiro passo na preparação do país para o
futuro, embora ainda limitada à definição de regras consistentes
com as novas características do mercado de trabalho. Para acom-
panhar as transformações e aproveitar os seus impactos positi-
vos, os governos brasileiros deverão promover uma ambiciosa
estratégia científica e tecnológica e, principalmente, de desenvol-
vimento das capacidades humanas (educação, qualificação, e
formação em larga escala com alta qualidade).
Mesmo assim, durante algum tempo, o Brasil terá que prote-
ger uma geração de analfabetos funcionais despreparada para a
velocidade e a intensidade dos impactos da revolução tecnológica
nos processos produtivos e na organização do trabalho. O Brasil
só não pode ignorar e evitar esta fantástica onda tecnológica. Não
é desejável nem possível.
Trabalho e liberdade na nova revolução tecnológica
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