dade real de redução do tempo de trabalho alocado pelos trabalha-
dores, a sociedade deve decidir sobre a forma de distribuição deste
adicional de tempo livre: por semana (menos dias), por dia (menor
jornada), ao longo da vida, ou no restante de vida após uma idade
considerada inativa. Seja qual for a forma de organização deste
tempo menor de trabalho que a tecnologia permite, o resultado
deve ser mais gente trabalhando menos, com mais tempo livre para
todos e emprego ampliado, compensando o desemprego provocado
pelo aumento da produtividade. A sociedade deve fazer a escolha
combinando a jornada semanal, o tempo de descanso e férias e a
distribuição da liberdade ao longo da vida.
A aposentadoria é apenas uma das variáveis da equação entre
tempo de trabalho e tempo livre, jogando toda esta “liberdade”
para a idade avançada quando, em princípio, declina a capaci-
dade produtiva do trabalhador. O debate atual no Brasil centrado
na idade mínima de aposentadoria restringe excessivamente a
questão e ignora as tendências de mudança no mercado de traba-
lho da onda tecnológica global. Para além da mudança da estru-
tura etária e da crise fiscal que domina o debate sobre a Previdên-
cia Social no Brasil, é necessário refletir sobre os impactos da
revolução tecnológica no mercado de trabalho e, particularmente,
no emprego e no tempo livre, nos diversos intervalos temporais.
Embora estes impactos ainda não sejam perceptíveis no Brasil, é
inevitável que o país mergulhe na nova onda tecnológica para
poder se inserir de forma competitiva no mercado internacional e
poder elevar a renda e qualidade de vida da população brasileira.
Na medida em que se acelere este processo, os brasileiros terão
que refletir e negociar, politicamente, a nova equação trabalho-li-
berdade que pode contemplar uma nova combinação: ampliação
da vida ativa do trabalhador (com aumento da idade para aposen-
tadoria) compensada pela redução da jornada semanal de traba-
lho. O que só será viável, evidentemente, com uma rápida eleva-
ção da produtividade do trabalho no Brasil.
Computado o tempo de atividade laboral ao longo de toda a
vida do trabalhador e não apenas por semana, pode-se combinar
menor jornada com mais anos de trabalho ou, o contrário, manu-
tenção da atual jornada com menos anos de trabalho para “apro-
veitar a vida” durante a aposentadoria. Mas, se o tempo livre
significa “aproveitar a vida”, não seria melhor ter mais tempo na
juventude, com menor jornada, mesmo que tivesse que continuar
trabalhando na velhice? Ou seja: diluir o tempo livre ao longo de
Trabalho e liberdade na nova revolução tecnológica
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