O imprevisível 2018 PD49 | Page 123

dade real de redução do tempo de trabalho alocado pelos trabalha- dores, a sociedade deve decidir sobre a forma de distribuição deste adicional de tempo livre: por semana (menos dias), por dia (menor jornada), ao longo da vida, ou no restante de vida após uma idade considerada inativa. Seja qual for a forma de organização deste tempo menor de trabalho que a tecnologia permite, o resultado deve ser mais gente trabalhando menos, com mais tempo livre para todos e emprego ampliado, compensando o desemprego provocado pelo aumento da produtividade. A sociedade deve fazer a escolha combinando a jornada semanal, o tempo de descanso e férias e a distribuição da liberdade ao longo da vida. A aposentadoria é apenas uma das variáveis da equação entre tempo de trabalho e tempo livre, jogando toda esta “liberdade” para a idade avançada quando, em princípio, declina a capaci- dade produtiva do trabalhador. O debate atual no Brasil centrado na idade mínima de aposentadoria restringe excessivamente a questão e ignora as tendências de mudança no mercado de traba- lho da onda tecnológica global. Para além da mudança da estru- tura etária e da crise fiscal que domina o debate sobre a Previdên- cia Social no Brasil, é necessário refletir sobre os impactos da revolução tecnológica no mercado de trabalho e, particularmente, no emprego e no tempo livre, nos diversos intervalos temporais. Embora estes impactos ainda não sejam perceptíveis no Brasil, é inevitável que o país mergulhe na nova onda tecnológica para poder se inserir de forma competitiva no mercado internacional e poder elevar a renda e qualidade de vida da população brasileira. Na medida em que se acelere este processo, os brasileiros terão que refletir e negociar, politicamente, a nova equação trabalho-li- berdade que pode contemplar uma nova combinação: ampliação da vida ativa do trabalhador (com aumento da idade para aposen- tadoria) compensada pela redução da jornada semanal de traba- lho. O que só será viável, evidentemente, com uma rápida eleva- ção da produtividade do trabalho no Brasil. Computado o tempo de atividade laboral ao longo de toda a vida do trabalhador e não apenas por semana, pode-se combinar menor jornada com mais anos de trabalho ou, o contrário, manu- tenção da atual jornada com menos anos de trabalho para “apro- veitar a vida” durante a aposentadoria. Mas, se o tempo livre significa “aproveitar a vida”, não seria melhor ter mais tempo na juventude, com menor jornada, mesmo que tivesse que continuar trabalhando na velhice? Ou seja: diluir o tempo livre ao longo de Trabalho e liberdade na nova revolução tecnológica 121