O Golpe – Brics, Dólar e Petróleo Euclides_Mance_O_Golpe_Brics_Dolar_e_Petroleo | Page 294

5. Golpes de Estado Recentes na América Latina Evolução da Técnica O principal desenvolvimento técnico do processo foi a sua ampla caracterização como a deposição legal do presidente por um mecanismo de impeachment. Com a realização formal do impeachment, não foi mais necessário sequestrar o presidente e levá-lo a outro país, como havia acontecido no Haiti e Honduras. No caso do Paraguai, como no Haiti, houve a participação do Poder Judiciário e, como em Honduras, houve a participação do Congresso. Desse modo, a deposição do governo ganhou uma consistência formal superior a todas as ocorrências anteriores – tratando-se formalmente de um “golpe democrático”, para usar a expressão citada na mensagem da embaixatriz. Mas, tal como em Honduras, o motivo da deposição de Lugo era inconsistente, o que convertia o seu impeachment em claro golpe de estado. Contudo, o convencimento de uma parcela da sociedade so- bre a legitimidade e legalidade da deposição do presidente se deu por meio dos fluxos de comunicação, propagando interpretantes a seu respeito. De sua parte, os Estados Unidos não se pronunciaram ime- diatamente sobre a deposição – como ocorrera no apoio ao golpe da Venezuela –, mas somente 20 dias após o impeachment e pu- deram esperar por um pronunciamento da OEA, com base nas observações da comissão composta por seus aliados, integrantes de seu bloco econômico (México e Canadá) ou golpeados e reo- rientados com seu apoio (Haiti e Honduras) – todos alinhados à sua posição hegemônica. Porém, a rapidez com que o impeachment foi processado, violando formalmente o direito de defesa, embasou fortemente parte da argumentação de que se tratava de um golpe de estado. Também o motivo alegado foi objeto de denúncia, pois o desfecho de tal confronto, que resultou tragicamente na morte de 17 pessoas, poderia ter sido provocado pelas próprias forças golpistas, visando derrubar o presidente. 293 de 382