Barroso
Noticias de
17 de Dezembro de 2014
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Ambição e coragem para Barroso
A região de Barroso, que,
como bem sabemos, engloba
os concelhos de Boticas e
Montalegre, é, há tempo demais,
um território que desperdiça o
melhor de si. Tem tudo para ser
uma região fantástica, mas não o
é! Nem para quem a visita, e muito
menos para quem nela habita. Para
estes últimos, o isolamento é total.
Não há diversão, não há desporto,
não há cultura, não há gente, e o
pior de tudo, não há trabalho.
A região de Barroso, dada
a sua enorme riqueza natural e
paisagística, poderia ter qualidade
de vida, mas não a tem, poderia
ter a melhor água, mas não a
tem, poderia ter uma agricultura
de excelência, mas não a tem,
poderia ter indústria, mas não tem.
Sem ambição e sem estratégia de
desenvolvimento assistimos, dia
após dia, ao seu despovoamento.
Habitada por gente que, na
sua esmagadora maioria, vive com
“uma mão à frente e uma outra
atrás”, poucas são as famílias que
se podem dar ao luxo de não bater
à porta da Câmara Municipal,
em Boticas liderada pelo PSD
e em Montalegre pelo PS, a
pedinchar um trabalho precário,
dissimulado através de um estágio
de “meia dúzia de meses”, mal
pago e sem futuro mas que serve
para, temporariamente, aliviar
os depauperados cofres das
respetivas famílias.
Nestas circunstâncias perde-
se força, garra, determinação. Já
nem os jovens têm a irreverência
necessária para reivindicar os
direitos conquistados com a
revolução de abril. À fome, juntase o medo de ser mal interpretado.
Há mesmo medo de respirar ou,
como diria o filósofo José Gil,
medo de existir, de afrontar as
forças do mundo desencadeando
as suas próprias forças de vida.
Medo de agir, de tomar decisões
diferentes da norma vigente,
medo de amar, de criar, de viver.
Medo de arriscar.
Em Barroso, os jovens já não
reagem ao facto de um “iletrado”
ocupar um lugar de destaque na
(pseudo)cultura do reino. Têm
medo! Os jovens já não reagem
ao facto de constatarem que as
famílias do regime têm emprego,
para todos os seus elementos,
nas instituições locais, enquanto
eles, depois do estágio, ficam
desempregados ou têm de emigrar,
para só voltar, uns diazitos no
mês de agosto, e ainda por cima,
terem de gramar com a bandeira
do país que os acolheu, numa das
muitas rotundas da terra, onde se
derreteu o dinheiro que deveria ser
utilizado para criar emprego. Têm
medo! Em Barroso, os jovens já
não ousam questionar a bondade
de quem cede “topos de gama a
troco de nada”. Têm medo! Em
Barroso, os jovens não ousam
questionar a origem do dinheiro
que paga tanta e tanta jantarada,
que dava para criar tanto emprego.
Têm medo! Em Barroso, os jovens
já não ousam questionar o facto
de a Câmara Municipal atribuir a
chave de ouro da Vila ao primeiroministro, precisamente numa
altura em que este encerra vários
serviços na terra. Têm medo! Os
jovens já não questionam sequer
o facto de nesta festarola se
oferecer o comer e o transporte a
toda a população, derretendo o
dinheiro que dava para criar tanto
emprego. Têm medo! Os jovens já
não reagem à lata de quem passa
o tempo a criticar o encerramento
do tribunal para, na primeira
oportunidade, oferecer a chave
de ouro da Vila, precisamente a
quem decidiu fechar esse serviço.
Têm medo! Os jovens, embora
conheçam o vencimento de certas
personalidades, já não questionam
de onde lhes vem tanto dinheiro.
Têm medo!
Os jovens têm medo. Os
menos jovens tremem só de
pensar que alguém possa ler os
seus pensamentos.
Mas que raio: será que foi
para isto que se fez o 25 de abril?
Boticas e Montalegre, talvez
pela sua grande apetência
para a festa permanente, foram
dos pequenos concelhos de
Portugal, aqueles que mais vezes
receberam primeiros-ministros e
presidentes da república. Todos
eles, sem exceção, passaram
pela nossa região. Alguns, até
mais do que uma vez. Mas
todos eles desprezaram a nossa
hospi [YYK