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4 Barroso Noticias de José Fernando Moura Na formação da nossa sociedade rural de então, encontravam-se ainda certos vestígios e práticas de organização ancestrais, que se prolongaram até bastante tarde. A constituição da família era um dos suportes mais consistentes dessa estrutura social. Poderia classificar-se como: família tradicional, geralmente numerosa, de sujeição à mesma autoridade doméstica de tendência patriarcal. O número de nascimentos fora do matrimónio convencional era muito comum; filhos de pai incógnito, sobretudo no seio das famílias mais pobres, era uma constante. A taxa de natalidade era igualmente fecunda, tendo como consequência imediata uma percentagem elevada do elemento infantil no seio do agregado familiar. Por essa altura as crianças 15 de Novembro de 2014 Reminiscências do Passado – ll Rotas do carvão representavam uma força de trabalho apreciável, sobretudo a nível da pastorícia. «Ah cabras do meu amo, quem vos guardará p’ro ano?» As famílias que viviam na extrema pobreza, sendo infelizmente em elevado número, na maioria das vezes, punham os seus filhos a “servir” desde a mais tenra idade, como criados de servir nas casas mais abastadas. Quão distantes estamos desses tempos! Nos dias que correm seria considerado um delito: escravidão e exploração do trabalho infantil. O propósito deste introito vai no sentido de destacar a infância infeliz da maioria dessas mesmas crianças, inclusive dos meus informadores, entre os quais incluo o meu pai, a quem rendo aqui a minha comovida homenagem, que com doze anos já calcorreavam, com os seus burritos carregados de sacos de carvão, e alguns deles descalços, o caminho de Chaves. O Inverno era a época mais propícia para se fazer o carvão, porque havia menos que fazer, embora os mais pobres o fizessem ao longo do ano. Além do carvão produziam igualmente borralho destinado preferencialmente às braseiras. O borralho é feito de lenha verde; giesta, carvalho, rama de mato, etc., Também se aproveitava o borralho do forno depois de aquecido, onde se cozia o pão. Após arrancarem os torgos, estes constituem as raízes da urze já desprovidas da rama, eram lançados para uma cratera feita na terra, com um metro de profundidade aproximadamente. Depois de os terem deixado arder bem, tapavam a cova com pedras lascas, torrões e terra. Por último, calcava-se bem com uma enxada para se abafar o carvão e impedir que o fogo se reacendesse. No dia seguinte, de manhãzinha, recolhia-se o carvão em sacos. Era destinado de preferência aos fogões; na preparação das refeições, no abastecimento aos ferreiros, e às forjas. A electricidade e o aparecimento dos fogões a gás vieram dar o golpe de misericórdia na utilização do carvão. Tem de se distinguir duas espécies de mato: o torgueirinho, de floração roxa, que nos meses de Maio e Junho embeleza os nossos montes desse cromatismo tão vivo e tão peculiar! E o mato derreado, mais perfumado, deita uma bonita flor branca. O primeiro liberta frequentemente chispas durante a combustão, tornando-se esta mais intensa, daí as donas de casa interpelarem o vendedor : «ele espirra? ». Preferiam o carvão de mato derreado. O carvão era vendido para a “Vila” ( Montalegre), Chaves, Borralha quando as minas de extracção do volfrâmio funcionavam no seu máximo, e ainda para Braga. Porém o grosso da produção destinava-se ao mercado de Chaves. Depois de terem colhido o carvão em sacas, o que geralmente acontecia da parte da