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Dia da Língua e da Cultura da CPLP abraça a indústria cinematográfica A AULP esteve presente nas comemorações do Dia da Língua Portuguesa e Cultura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que tiveram lugar na sede da CPLP, Palácio Conde de Penafiel, a 9 de maio. A sessão de abertura teve início com as palavras da Secretária Executiva Dra. Maria do Carmo Silveira que agradeceu a presença de todos os participantes, enaltecendo o relevo dado este ano às manifestações artís- ticas dos Estados Membros da CPLP, que contribuem para estimular uma reflexão mais aprofundada sobre as indústrias criativas da Comunidade. O Embaixador Gonçalo Mourão, representante da Presidência pro tempore do Brasil, apresentou o trailer do Programa CPLP Audiovisual, que tem por objetivo fomen- tar a produção e teledifusão de conteúdos audiovisuais nos estados membros da CPLP, através da realização de con- cursos nacionais de seleção de projetos de documentários e telefilmes de ficção em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Foram convidados para a mesa redonda “Políticas Cul- turais e Economia audiovisual na CPLP” três cineastas pio- neiros nos seus países de origem: Leão Lopes (Cabo-Verde), Flora Gomes (Guiné-Bissau) e Lurdes Pires (Timor-Leste). A moderação do debate foi efetuada pelo ator santomense Ângelo Tores, ator e realizador do documentário “Mionga ki Ôbo: Mar e Selva”, que chamou a atenção para o facto de a indústria cinematográfica na CPLP estar unida pela língua comum, apesar de continuar a ser uma indústria fraca, ou até inexistente, em muitos dos países de língua portuguesa. Lurdes Pires, realizadora timorense, falou das suas moti- vações e dificuldades na realização daquele que viria a ser o primeiro filme timorense de longa metragem: “A guerra da Beatriz” (2013), do qual foi co-produtora. Após um período na Austrália, Lurdes Pires regressa a Díli em 1999, onde tinha deixado grande parte da sua família durante a invasão da Indonésia, encontrando naquela que seria a sua “casa”, infra-estruturas destruídas, pessoas desalojadas, o cheiro a cinzas, o cheiro a morte. “Até hoje não consigo descrever o que eu vi”, desabafou. Ouviu muitas histórias de um povo heroico, sobre- vivente, e em 2002, com a instauração da independência do país, observou o reconstruir do seu país e a definição de prioridades como a saúde pública e o saneamento. Percebeu que a cultura e o cinema nunca seriam uma prioridade, sendo os filmes feitos por estrangeiros. Apesar das dificuldades em conseguir financiamento para “A guerra da Beatriz”, a cine- asta acreditava que este seria um enorme contributo cultural para a reafirmação da identidade e unidade do país acabado de sair da guerra. E conseguiu, através de crowdfoundings, das Forças Armadas de Timor (que forneceram armas, fatos, figurantes, veículos militares, entre outros), da The Global Film Initiative, entre outros apoios, não necessariamente monetários mas também em género. O filme foi vencedor de mais de uma dezena de prémios, destacando o melhor filme no Festival Internacional de Cinema da Índia. Flora Gomes, reconhecido cineasta da Guiné-Bissau, re- alizador e autor de “República di Mininus”, é considerado um dos fundadores do cinema africano. Falou no seu filme “Mortu Nega” (Morte Negada em português, 1988) que é o primeiro docuficção do seu país e que retrata a guerra de independência de Guiné-Bissau. O cineasta sublinha as enor- mes dificuldades em executar a produção de obras audiovis- uais, sendo por vezes necessário 7 ou 8 anos para fazer um filme, uma vez que as prioridades do governo não englobam a indústria cinematográfica. Leão Lopes, antigo Ministro da Cultura de Cabo-Verde (1991-2000), realizador de cinema, escritor, artista plástico e professor universitário, fala da sua experiência, sublinhando a importância do cinema na educação linguística dos cabo- verdianos que viam nos filmes portugueses uma forma de aprenderem e aperfeiçoarem a língua portuguesa. Inspirado pela arte de Flora Gomes, Leão Lopes, formado em Belas Artes, decidiu fazer um filme, mas poucas pessoas acredita- ram que este fosse capaz, até fazer “O Ilhéu de Contenda” (1996), a primeira longa-metragem de ficção cabo-verdiana, 23