mãos , isto é , tanto de Portugal em relação aos Novos Mundos , quanto deste em relação à Europa , pois os portos italianos e os dos Países Baixos – católicos e protestantes –, por exemplo , tornaram-se pontos importantes de reexportação dos produtos trazidos pelos navios portugueses para os mercados europeus , como examinado em dois artigos .
Por fim , questiona-se também o fluxo dessa rota , insurgindo-se contra a ideia de que esta era unicêntrica , ou seja , tudo partia ou chegava de um único espaço , Portugal , dali sendo direcionado para as diversas conquistas espacialmente distantes e desconectadas entre si . Ao contrário , eram redes ( no plural ) multicêntricas por natureza , que podiam unir apenas dois ou mais espaços coloniais , sem envolver o reino ou os mercadores reinóis , como foi o caso do comércio negreiro estabelecido entre as praças do Rio de Janeiro e Salvador e alguns portos africanos , como Angola e a Costa da Mina , e o comércio baleeiro estabelecido entre as duas primeira praças , aqui também abordados . Outro questionamento versa sobre o sentido desse fluxo . Nesse caso , interroga-se a noção de que havia uma única direção fixa , isto é , enquanto especiarias e produtos primários partiam das colônias em direção à Portugal , dali fluíam os produtos manufatureiros , os conhecimentos e as práticas especializadas . Muito ao contrário , produtos das mais diversas naturezas – primários ou manufaturados – eram produzidos em diversas pontos do império , sendo a partir deles intercambiados em direções múltiplas , inclusive em direção ao reino , o que ocorria também com as práticas , os saberes e os conhecimentos .
A primeira parte deste dossiê , intitulada “ Produtos ”, reúne artigos que se debruçam sobre a análise de como o comércio de determinados artigos , impactaram as sociedades que se conectaram entre si nessas rotas comerciais .
A rota do sândalo em Timor Leste foi o tema explorado por Vicente Paulino , que destacou seu impacto sobre a sociedade local , ali criando uma mescla de gentes e culturas . A rota direta que se estabeleceu entre o Rio de Janeiro e os Açores para a extração e o comércio do azeite de baleia é o tema do artigo de Margarida Machado . A exploração do cacau na ilha de São Tomé e Príncipe é abordado no artigo de Maria Nazaré Ceita , o qual analisa o impacto que sua produção exerceu sobre as áreas urbanas e rurais da ilha . Odílio Fernandes descortina o interesse da Coroa portuguesa , no início do seculo XVI , em aceder às riquezas materiais , principalmente metais preciosos como a prata , no reino do Ndongo .
Os livros , que transitaram entre diversos espaços do império português , não eram apenas simples mercadorias , pois se convertiam em vetores de transmissão de conhecimentos , são examinados em dois artigos . Mariana Sales analisa as bibliotecas jesuíticas da América portuguesa , cujos livros divulgavam a cultura judaico-cristã nos Novos mundos , tendo sido usados , principalmente , para a conversão dos nativos ao catolicismo . Já José Newton Meneses aborda a transmissão de saberes técnicos agrícolas entre a Portugal e o Brasil , a partir do fluxo de compêndios especializados sobre o tema , servindo para promover o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas práticas agrícolas .
A segunda parte intitula-se “ Agentes ” e aborda o componente humano envolvido nessas rotas , inclusive enquanto mercadorias , caso dos escravos africanos .
A gestão , as redes e as estratégias mercantis de alguns produtos são examinados em alguns artigos . Entre as inúmeras comunidades de comerciantes estrangeiros que se estabeleceram em Lisboa , a dos italianos é estudada por Nunziatella Alessandrini , que se debruça sobre o seu papel e as conexões que formaram entre essa praça e a Península Ibérica . Daniel Strum aborda os comerciantes da rota do açúcar , cujas redes se estenderam desde o Brasil , passando por Portugal , até diversas praças europeias , especialmente Amsterdam , onde o produto era comercializado na bolsa local . Já Leonor Freire Costa e Maria Manuela Rocha examinam as redes que se estruturam na rota do ouro brasileiro , produto que descoberto em abundância nas Minas Gerais , no século XVIII , fez prosperar e redirecionou todo o trânsito mercantil português durante esse século . E a trajetória do mercador e armador Pero Vaz Siqueira , que atuou em Macau no último quartel do século XVII , serve como pano de fundo para que Leonor Diaz de Seabra e Maria de Deus Manso descortine o envolvimento de mercadores portugueses nas rotas locais orientais .
Por fim , dois artigos examinam as rotas dos escravos , redes que tiveram , a partir da África , alcance mundial e que os portugueses estruturaram desde os primórdios da expansão marítima ainda no século XV , na qual também atuaram mercadores nascidos nas conquistas , especialmente os brasileiros . Os escravos forneceram a força de trabalho necessária à produção de um sem números de produtos tropicais , os quais foram comercializados em diferentes rotas em múltiplos sentidos . Lourenço Gomes detém-se no impacto que a escravidão moderna exerceu sobre o arquipélago de Cabo Verde , um dos destinos finais e ponto de passagem dos cativos , acabando por configurar aí uma sociedade própria , cuja especificidade espelha a chamada cabo-verdianidade . Já o artigo de Benigna Zimba versa sobre o outro lado dessa mesma moeda , abordando o impacto que a escravidão exerceu nas próprias sociedades africanas fornecedoras dos escravos ao tráfico negreiro . Nesse caso , mesclando uma análise de gênero e social , analisa as rotas da Rainha Achivanjila em Moçambique , em fins do século XIX .
Júnia Ferreira Furtado Universidade Federal de Minas Gerais ( UFMG )
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mãos, isto é, tanto de Portugal em relação aos Novos Mundos,
quanto deste em relação à Europa, pois os portos italianos e os
dos Países Baixos – católicos e protestantes –, por exemplo,
tornaram-se pontos importantes de reexportação dos produtos
trazidos pelos navios portugueses para os mercados europeus,
como examinado em dois artigos.
Por fim, questiona-se também o fluxo dessa rota, insurgin-
do-se contra a ideia de que esta era unicêntrica, ou seja, tudo
partia ou chegava de um único espaço, Portugal, dali sendo di-
recionado para as diversas conquistas espacialmente distantes
e desconectadas entre si. Ao contrário, eram redes (no plural)
multicêntricas por natureza, que podiam unir apenas dois ou
mais espaços coloniais, sem envolver o reino ou os mercadores
reinóis, como foi o caso do comércio negreiro estabelecido
entre as praças do Rio de Janeiro e Salvador e alguns portos
africanos, como Angola e a Costa da Mina, e o comércio ba-
leeiro estabelecido entre as duas primeira praças, aqui também
abordados. Outro questionamento versa sobre o sentido desse
fluxo. Nesse caso, interroga-se a noção de que havia uma única
direção fixa, isto é, enquanto especiarias e produtos primári-
os partiam das colônias em direção à Portugal, dali fluíam os
produtos manufatureiros, os conhecimentos e as práticas espe-
cializadas. Muito ao contrário, produtos das mais diversas na-
turezas – primários ou manufaturados – eram produzidos em
diversas pontos do império, sendo a partir deles intercambia-
dos em direções múltiplas, inclusive em direção ao reino, o que
ocorria também com as práticas, os saberes e os conhecimentos.
A primeira parte deste dossiê, intitulada “Produtos”, reúne
artigos que se debruçam sobre a análise de como o comércio de
determinados artigos, impactaram as sociedades que se conect-
aram entre si nessas rotas comerciais.
A rota do sândalo em Timor Leste foi o tema explorado por
Vicente Paulino, que destacou seu impacto sobre a sociedade
local, ali criando uma mescla de gentes e culturas. A rota direta
que se estabeleceu entre o Rio de Janeiro e os Açores para a
extração e o comércio do azeite de baleia é o tema do artigo
de Margarida Machado. A exploração do cacau na ilha de São
Tomé e Príncipe é abordado no artigo de Maria Nazaré Ceita, o
qual analisa o impacto que sua produção exerceu sobre as áreas
urbanas e rurais da ilha. Odílio Fernandes descortina o inter-
esse da Coroa portuguesa, no início do seculo XVI, em aceder
às riquezas materiais, principalmente metais preciosos como a
prata, no reino do Ndongo.
Os livros, que transitaram entre diversos espaços do impé-
rio português, não eram apenas simples mercadorias, pois se
convertiam em vetores de transmissão de conhecimentos, são
examinados em dois artigos. Mariana Sales analisa as bibliote-
cas jesuíticas da América portuguesa, cujos livros divulgavam
a cultura judaico-cristã nos Novos mundos, tendo sido usados,
principalmente, para a conversão dos nativos ao catolicismo.
Já José Newton Meneses aborda a transmissão de saberes téc-
nicos agrícolas entre a Portugal e o Brasil, a partir do fluxo
de compêndios especializados sobre o tema, servindo para
promover o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas
práticas agrícolas.
A segunda parte intitula-se “Agentes” e aborda o com-
ponente humano envolvido nessas rotas, inclusive enquanto
mercadorias, caso dos escravos africanos.
A gestão, as redes e as estratégias mercantis de alguns
produtos são examinados em alguns artigos. Entre as in-
úmeras comunidades de comerciantes estrangeiros que se
estabeleceram em Lisboa, a dos italianos é estudada por
Nunziatella Alessandrini, que se debruça sobre o seu papel
e as conexões que formaram entre essa praça e a Península
Ibérica. Daniel Strum aborda os comerciantes da rota do
açúcar, cujas redes se estenderam desde o Brasil, passando
por Portugal, até diversas praças europeias, especialmente
Amsterdam, onde o produto era comercializado na bolsa lo-
cal. Já Leonor Freire Costa e Maria Manuela Rocha exami-
nam as redes que se estruturam na rota do ouro brasileiro,
produto que descoberto em abundância nas Minas Gerais,
no século XVIII, fez prosperar e redirecionou todo o trânsito
mercantil português durante esse século. E a trajetória do
mercador e armador Pero Vaz Siqueira, que atuou em Macau
no último quartel do século XVII, serve como pano de fundo
para que Leonor Diaz de Seabra e Maria de Deus Manso
descortine o envolvimento de mercadores portugueses nas
rotas locais orientais.
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