Neurologia Manual para pessoas com Parkinson | Page 16

passos cada vez mais curtos (festinação). Outros doentes têm bloqueios durante a marcha, no início ou durante a marcha, ficando com os pés colados ao chão e dificuldade em reiniciar a marcha. O controlo do equilíbrio e da marcha é um processo neurológico de integração e coordenação automática de informação multissensorial visual, propriocetiva (noção espacial da posição das diferentes partes do nosso corpo), vestibular e estado de cognição, utilizando um sistema locomotor (músculos e articulações), com mais ou menos rigidez e bradicinésia, de forma a que o corpo humano responda e corrija de forma rápida e eficaz a situações de desequilíbrio. No quotidiano do dia-a-dia o doente de Parkinson é sujeito a vários desafios posturais do equilíbrio como piso irregular, desvio de direção, paragens súbitas, desníveis, várias tarefas em simultâneo (ex. conversar, transportar um saco), desatenção por estímulo auditivo (ex. alguém chamar pelo nosso nome), visuais e de planeamento motor (ex. rodear uma cadeira; passar através de uma porta entre duas divisões; eminência de aproximação de obstáculo no chão). Nestas situações o doente parkinsónico apresenta um maior risco de queda, com risco de fraturas e traumatismo crânio-encefálico, sendo dos eventos mais perigosos e potencialmente incapacitantes. 4.2. Sinais e sintomas não motores 4.2.1. Alterações cognitivas e comportamentais Dra. Gisela Carneiro Os avanços científicos na medicina permitiram uma melhoria diagnóstica e terapêutica, com aumento da sobrevida dos doentes com DP. Estes avanços tornaram claro que os doentes com DP, para além das manifestações motoras típicas, apresentam sintomas não motores como perturbações cognitivas e perturbações comportamentais, sendo estas parte integrante do processo degenerativo da DP. Na maioria dos doentes com DP, as perturbações cognitivas, como a Demência, estão presentes ao fim de vários anos de evolução da doença. Alguns estudos apontam para uma prevalência de perturbações cognitivas em cerca de 78% dos doentes com DP. Os fatores clínicos que mais se 16