AMELIA BRIEGO – NAS SOMBRAS DA NOITE
A garota estava sentada nos degrais da porta dos fundos de um café lotado,
meio escondida pelas sombras da noite. O ar estava frio e úmido, e suas roupas
esfarrapadas não eram suficientes para evitar que seu corpo miúdo tremesse.
Quando ela era apenas uma menininha ela achava que a escuridão da noite lá
fora tinha um ar excitantemente misterioso; todos os pequenos segredos vistos apenas
pelo grande olho - a lua. A noite tinha um ar de promessa; promessa de aventura...
Você pode ser tudo o que quiser; uma princesa fugitiva, uma cartomante, uma artista
de Circo, uma feiticeira de terras distantes, uma ladra. Amanhã ninguém vai lembrar
seu rosto ou seu nome; somente seus olhos brilhando no escuro e o que você escolheu
ser.
Mas agora a garota não acreditava mais em contos de fadas. Agora ela era
parte das sombras da noite, e ela descobrira a verdade: a escuridão é vazia, e fria.
Agora ela era apenas o que parecia ser: uma garota pobre e suja sem lar ou esperança,
encolhida em um canto em uma noite de inverno.
Luz amarelada vazava das janelas das casas e lojas. Lembranças de fogareiros
acesos e da luz cálida de um lampião tomaram a mente da garota, dolorosas e ao
mesmo tempo aconchegantes; aquela nostalgia melancólica de quando pensamos ter
perdido algo bom para sempre... por um momento, ela chegou a ter saudade de casa.
- Senhoras e senhores, sem mais delongas! O melhor chocolate e o cara mais
incrível da cidade estão aqui.
O garoto parou quando viu o olhar triste no rosto da garota. Olhou pras
canecas que trazia como se de repente estivessem cheias de água de esgoto.
- É, eu sei que não é muito, mas é o melhor que eu consegui arranjar por um
real.
Ela dirigiu a ele um sorriso desanimado. Uma brisa gelada soprou no cabelo
escuro e desgrenhado do garoto. A garota queria dizer que não era culpa dele, mas
tudo o que ela conseguiu foi tremer com o frio.
Ele sentou ao lado dela nos degraus e deu a ela uma das canecas. A garota
fechou as mãos em volta daquele pedacinho de calor e se deixou saborear aquela
sensação agradável por um momento. Eles beberam o chocolate em silêncio.
- Não fica triste - ele disse, baixinho - eu tenho certeza que a gente vai dar um
jeito.
Ela queria acreditar nisso. Ela queria dizer "claro, vai ficar tudo bem no fim
das contas", mas um final feliz parecia tão real quanto Papai Noel, ou uma refeição
decente e uma cama quente. Ela não queria ser a pessimista, porém, nem a garota
fraca que precisa de consolo, então fez seu melhor para soar animada.
- Eu não tô triste. É só que o inverno congelou o meu rosto nessa cara
emburrada.
Ele não acreditou nela, é claro. Seus olhares se encontraram e eles viram seus
próprios medos e receios espelhados nos olhos um do outro. Então, do nada, o garoto
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