Muitas Mãos: Antologia Literária 2014 | Page 32

CECILIA MARTINS – HERANÇA Foi à loja comprar um terno para a ocasião especial. Um traje belo, para chamar a atenção. O terno, preto e igual a todos os outros, foi o que mais lhe agradou. O que ele viu nele não se sabe, mas achava aquele terno sem graça a coisa mais linda que seus olhos já haviam encontrado. Quando chegou, esperou que todos o olhassem e admirassem, mas ninguém se encantou pelo terno como ele. Em todas as suas próximas festas, usou aquele mesmo terno e, ao morrer, deixou-o para seu filho, que também o admirava. Não se sabe de onde o terno veio, só que ele nunca se desfez. Passando de geração em geração, os homens daquela família usaram sempre o mesmo terno: o terno sempiterno. 32