Muitas Mãos: Antologia Literária 2014 | Page 27

AMANDA ROSAS – ERVA DE ILHA, UMA ERVILHA – Um dia quero ser grande como um pé de ervilha. Crescer, crescer e crescer e ter várias irmãs filhas. Apesar de pequeninas, são grandes e unidas plantas. Estão quentinhas no casulo, tímidas e medrosas. – Marieta, Marieta, és verde de envergonhada. Marieta menina moça, não te prendas nesta ciranda redonda, tua essência louca! – Ser ervilha é um dom da terra, que cresce em formato de folha, se desdobra pé por pé, como a mais pontiaguda agulha. Como as árvores da meia tarde, ser ervilha é nascer sem pressa, é despertar acompanhada, formando dança e peça. Ser ervilha como um todo, para desta me sentir segura, nunca estou só, e enxergo tudo em torno. Ser ervilha, um pé bem grande, em horas vagas foi meu sonho, foi desejo, foi saber. -Mas agora, de minha insegurança nada sou... E se fosse para nascer ervilha, segurança reinaria quem sou. Quero tanto, tanto ser maior, e encostar minha própria mão em outro lado do universo... Me esticaria do mindinho ao ""cucuruto"", para achar meu ramo, ninho. Sou de lua e por isso ervilha não posso encontrar, pois no meio desta estrada, Marieta eu ficaria sem pé. – Já pensou nesta façanha? – Já pensou em nascer vegetal? Moro no mar e queria, Queria ser erva de ilha. 27