AMANDA ROSAS – ERVA DE ILHA, UMA ERVILHA
– Um dia quero ser grande como um pé de ervilha. Crescer, crescer e crescer
e ter várias irmãs filhas.
Apesar de pequeninas, são grandes e unidas plantas. Estão quentinhas no
casulo, tímidas e medrosas.
– Marieta, Marieta, és verde de envergonhada. Marieta menina moça, não te
prendas nesta ciranda redonda, tua essência louca!
– Ser ervilha é um dom da terra, que cresce em formato de folha, se desdobra
pé por pé, como a mais pontiaguda agulha.
Como as árvores da meia tarde, ser ervilha é nascer sem pressa, é despertar
acompanhada, formando dança e peça.
Ser ervilha como um todo, para desta me sentir segura, nunca estou só, e
enxergo tudo em torno.
Ser ervilha, um pé bem grande, em horas vagas foi meu sonho, foi desejo, foi
saber.
-Mas agora, de minha insegurança nada sou... E se fosse para nascer ervilha,
segurança reinaria quem sou.
Quero tanto, tanto ser maior, e encostar minha própria mão em outro lado do
universo... Me esticaria do mindinho ao ""cucuruto"", para achar meu ramo, ninho.
Sou de lua e por isso ervilha não posso encontrar, pois no meio desta estrada,
Marieta eu ficaria sem pé.
– Já pensou nesta façanha?
– Já pensou em nascer vegetal?
Moro no mar e queria,
Queria ser erva de ilha.
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