Muitas Mãos: Antologia Literária 2014 | Page 15

CLENA TECAVADI – TERRA REVIRADA, LEMBRANÇAS ABANDONADAS O dia já começava a escurecer e ele decidiu parar o carro. O ronco do motor se extinguiu e o silêncio tomou conta da estrada deserta. Raivoso, segurou o volante com toda a sua força, resmungou algumas palavras inaudíveis e finalmente deixou que seus braços caíssem ao lado de seu corpo. Abriu a porta do carro e, assim que colocou o pé para fora, sentiu o ar pesado e frio tomar conta dele. Seu cabelo preto se rebelava no vento, ao mesmo tempo que sua alma se inquietava. Respirar havia se tornado uma tarefa árdua, primeiramente pelo ar rarefeito e depois por ter que lutar contra seu ímpeto de fugir do local o mais depressa possível. Contornou o automóvel e abriu a porta traseira. A poeira da viagem sujara-a, fazendo com que agora seus dedos estivessem pintados de terra. Retirou o pacote volumoso de dentro e jogou-o sobre as costas. A idade não ajudava em nada e a dor em suas costas era praticamente insuportável naquele momento. Com a mão livre que restava, pegou uma mochila marrom antes de trancar o carro. Ouviu-se um estrondo e assim que o senhor atingiu o limite da floresta, uma chuva fina e gelada açoitou o calçamento. Mesmo com as árvores para protegê-lo, a única mecha de cabelo loiro que contrastava com o terno preto do homem foi molhada. Algumas horas se passaram e como a chuva havia acabado, as estrelas e a lua tomaram conta do céu noturno. Chegando a