Military Review Edição Brasileira Quarto Trimestre 2016 | Page 90

contectado com o processo de paz. Em sua palestra anual, em 27 de novembro de 2005, realizada no Dia dos Heróis dos LTTE, “o Presidente e Primeiro-Ministro do Eelam” (como a mídia tâmil o chamava) Velupillai Prabhakaran avisou que os LTTE pretendiam reiniciar as hostilidades se o governo não implementasse avanços tangíveis para a paz6. Ao mesmo tempo, proeminentes ataques suicidas dos LTTE, incluindo uma tentativa de assassinato do Comandante do Exército do Sri Lanka, Gen Div Sarath Fonseka, e o bem-sucedido assassinato do terceiro mais alto oficial do Exército, levaram a uma situação sem possibilidade de retorno. Ainda tentando alcançar uma vitória diplomática cada vez mais improvável, a Noruega — o moderador principal da tentativa de resolução — fez esforços de última instância para a mediação, que previsivelmente falharam. Conforme a violência aumentou, ataques suicidas atingiram até alvos bem no interior do sul do Sri Lanka, e, antes de agosto de 2006, o país mais uma vez estava em guerra. A Colômbia deveria estar familiarizada com a estratégia empregada pelos LTTE. As negociações de paz foram tentadas várias vezes antes das negociações atuais, mais recentemente durante o governo Pastrana, porém essas sempre resultaram em nada. Para afastar-se da “repressão” e buscar a paz, Pastrana complementou as negociações com visitas dos chefes das FARC para conhecer autoridades europeias, particularmente as de perfil social-democrático, para que os chefes pudessem pessoalmente ver e ouvir como tais regimes funcionavam no mundo político moderno. Era esperado que essas visitas inspirassem as próprias aspirações revolucionárias das FARC e motivassem a mediação pacífica das reinvidicações. As FARC aceitaram prontamente o gesto do governo, mas ampliou os limites, demandando o estabelecimento de uma zona distensión (zona desmilitarizada). O governo cedeu o controle de uma área do tamanho da Suíça e uma população de aproximadamente 100 mil pessoas às FARC. Na realidade, o intento das FARC era adiar e se preparar para a sua “ofensiva final”. Como documentado amplamente pela Inteligência colombiana, as FARC aproveitaram as suas viagens no exterior para fazer mais contatos e abrir novas rotas para suas encomendas de narcóticos. A sua zona tornou-se uma área inexpugnável de concentração de mais empreendimentos criminosos e ataques7. Depois de mais de três anos de negociações, Pastrana e os seus conselheiros não chegaram mais 88 perto da paz. Os chefes das FARC introduziram continuamente novos problemas e alegações que foram empecilhos e contraproducentes para o progresso real. O ponto, obviamente, era prolongar o processo e permitir que o movimento pudesse se reorganizar e fortalecer as suas capacidades militares, bem como expandir o seu envolvimento no ciclo das drogas. Como um dos seus últimos atos, Pastrana mandou que as Forças Armadas reocupassem a zona. Nessa altura, contudo, e apesar das operações militares em andamento, grandes forças das FARC foram desdobradas até mesmo ao redor de Bogotá, a capital, bloqueando as mais importantes rodovias nacionais, reprimindo comércio e viagens. Aumento da criminalidade, como o sequestro e o tráfico de drogas, levaram ao crescente medo e até pânico, uma vez que havia o sentimento de que as FARC eram a organização mais poderosa na Colômbia. Existe a possibilidade de que as negociações atuais, agora com quatro anos de idade, sejam, também, um ardil? A liderança das FARC, por meio do seu secretariado (também conhecido como o Alto Comando Central), é experiente e hábil no controle, ou na distorção, de percepções. Não obstante, a evidência sugere fortemente que o objetivo das FARC, ao qual toda a atividade da organização é orientada, permanece ideológica e politicamente inclinada para sequestrar o poder do Estado. Por muitos anos, os chefes das FARC acreditavam que essa meta podia ser atingida apenas pela força e por uma guerra de guerrilha financiada pela criminalidade, particularmente pelo tráfico de drogas — uma conexão, que vale observar, a organização continua a negar8. No entanto, depois da sua derrota militar durante os anos de Uribe, a abordagem das FARC mudou para ser menos cinética [sem força militar] e se concentrou na alteração do enquadramento e da narrativa da sua luta por meio da guerra de informação, simultaneamente recrutando os “idiotas úteis” de Lenin ao fazer promessas a certos setores colombianos — cultivadores de coca, integrantes marginalizados de trabalho organizado — e alienando os elementos da extrema esquerda, como professores e estudantes radicais9. Externamente, o movimento estabeleceu bases razoavelmente seguras na Venezuela e no Equador para que as FARC pudessem sobreviver independente de quaisquer golpes que elas pudessem sofrer na sua própria terra. Essa tem permanecido a estratégia das FARC e levanta dúvidas sobre a natureza e os objetivos da Quarto Trimestre 2016  MILITARY REVIEW