Military Review Edição Brasileira Quarto Trimestre 2016 | Page 9

OCUPAÇÃO MILITAR de tal Força enfrentou a oposição de muitos , por ser contrário à política inicial , que visava a desmilitarizar o país permanentemente . Com efeito , muitos dos que criaram a política para a ocupação do Japão consideravam a desmilitarização do antigo império como seu objetivo mais importante . Assim , tal fato — o Japão como um forte aliado —, frequentemente citado como um importante êxito da ocupação , foi fruto de reações espontâneas aos acontecimentos , e não o resultado de um planejamento de longo prazo pela força de ocupação . Com efeito , representa uma guinada de 180 graus em relação às posturas fortemente defendidas inicialmente entre aqueles que formularam e executaram os planos de ocupação originais .
Razões para o Sucesso
Mais uma vez , após as histórias demasiadamente contundentes e pessoais de autores que haviam trabalhado na ocupação norte-americana , obras mais recentes têm enfatizado as continuidades entre o Japão do tempo de guerra , da ocupação e do período pós-ocupação4 . Esses estudos tendem a concluir que os êxitos do Japão durante e após a ocupação têm mais a ver com o país e com o povo japonês do que com as políticas ou ações norte-americanas daquela época . Ainda assim , a ocupação norte-americana no Japão teve mais êxito que a conduzida no Iraque . Embora se possam traçar muitos pontos de comparação , descreverei três deles , que considero como as principais razões que explicam por que isso pode ser razoavelmente demonstrado pelos fatos .
Aceitação Psicológica da Derrota . O povo japonês reconheceu que havia sido derrotado muito antes de o fato ser reconhecido pelos seus dirigentes . A maioria deles passava fome , e suas cidades estavam sendo incineradas à vontade pelos seus inimigos . Perto do final da guerra , estavam prontos para depor suas armas — para fazer qualquer coisa que desse um fim ao seu sofrimento —, mas prosseguiram mesmo assim , por um sentido de lealdade à nação , baseado em sua reverência ao imperador5 .
No Iraque , a situação era mais problemática . Os EUA derrotaram as Forças Armadas de Saddam Hussein , mas muitas pessoas não as consideravam representativas de seus interesses ou da identidade nacional . Em consequência , muitos iraquianos ficaram bastante satisfeitos ao se verem livres do controle infernal de seu ditador , exercido por meio de Forças Armadas opressoras , e não experimentaram um sentido pessoal de derrota . Contudo , qualquer alívio inicial que tenham sentido com o término do domínio de Hussein , exercido pelo aparato de segurança estatal , logo se dissipou , quando ficou claro que as forças de ocupação não eram capazes de prover segurança ou estabilidade civil . Assim , o conflito não havia sido uma guerra do povo , como no caso do Japão . Os iraquianos estavam prontos para um recomeço , da mesma forma que os japoneses antes deles , mas o medo que tinham , anteriormente , de Hussein e seus homens foi logo substituído por um senso de instabilidade hobbesiano devido à falta de segurança , ao caos interno e à inábil administração civil pela força de ocupação capitaneada pela CPA .
Fiz parte de um pequeno grupo responsável pelo plano estratégico da CPA , na época em que trabalhei em seu Escritório de Política , Planejamento e Análise ( Office of Policy , Planning , and Analysis — OPPA ). Ao longo desse trabalho , tive a oportunidade de colher observações sobre algumas perspectivas iraquianas em relação à nossa ocupação . Por exemplo , um iraquiano com quem conversei no OPPA me disse que , ainda que não desejasse o retorno de Hussein ou de um indivíduo brutal e cruel como ele , o Iraque estava inseguro porque não precisava da democracia tanto quanto de uma mão forte — de um líder forte para controlar as divergências e impor a ordem e estabilidade social6 . Independentemente de concordarmos ou não com essa opinião , o Iraque , na época , estava claramente deficiente em termos de liderança , especialmente uma liderança que fosse suficientemente reconhecida , respeitada e temida para fazer todo o povo iraquiano desistir de se rebelar contra o governo .
Liderança . Além disso , a não ser pelos dos escalões mais elevados , o caráter da liderança era diferente em todos os níveis , quando se compara o Iraque com o Japão pós-guerra . Os japoneses haviam sido ensinados a reverenciar seu imperador como um deus . Ainda que estivessem desmoralizados , passando fome e , de modo geral , conformados com a noção de que a derrota de seu país era inevitável , os japoneses teriam continuado a lutar se o imperador não lhes houvesse pedido para “ suportar o insuportável ” e aceitar a ocupação .
Em comparação , não existia havia líder com semelhante importância ou influência entre os iraquianos . A falta de uma figura unificadora como essa no controle do Estado não era o único problema de liderança
MILITARY REVIEW Quarto Trimestre 2016 7